“Sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outrem, ou de alguma coisa. Sentimento de dedicação absoluta de um ser a outro ser ou a uma coisa; devoção, adoração. Inclinação ditada por laços de família... Afeição, amizade, carinho, simpatia, ternura.” (Dicionário Aurélio).
Ela olha para ele com adoração.
Embevecidamente, mergulha seus olhos nos dele.
Perde-se naquele ser que é como uma extensão dela...
Como o ama!
Mais do que a si mesma.
Mais do que à vida.
Não concebe o mundo sem aquele amor.
De repente, ele grita, como a exigir atenção mais efetiva do que afetiva:
sua fralda está molhada.
Edna Farias.
sexta-feira, 19 de setembro de 2008
sexta-feira, 1 de agosto de 2008
Nem sempre foi assim.
Houve um tempo em que ela corria soltamente pelas ruas de terra batida daquele bairro novo, simpático e simplório. Lembra do dia em que chegou no caminhão da mudança. Era tão pequena e magrinha que coube entre sua mãe, duas irmãs e o motorista do caminhão.
Entrava-se no bairro por uma estrada fartamente arborizada. Naquela época, não sabia, mas era flamboaiã. A Estrada, em ambos os lados, era um caminho de flamboaiã. As árvores que margeavam a estrada curvavam-se uma em direção à outra formando um corredor inteiramente coberto.
Gente, como era lindo! Ela olhava e olhava e olhava fartamente para aquele túnel arborizado. Que delícia! Acabada a estrada, estava-se no bairro. Ruazinhas iguais cheias de casinhas iguais. Todas do mesmo tamanho e da mesma cor, igual, igual, em tudo igual.
Ah, mas, para ela, parecia o paraíso. Uma casa de tijolo! um quintal limpinho! uma rua que parecia rua de tão certinha! um bairro que parecia bairro de tão uniforme! Que lugar lindo!
E água e luz elétrica! Era demais!!!
As casas, em sua parecença, não possuíam muros. Era como morar no bairro inteiro, em todo lugar, que era um lugar só. Fartou-se de olhar e olhar e olhar. E, quando todos estavam ocupados com a mudança, abriu os braços e rodou freneticamente como a tomar posse daquele espaço que parecia não acabar mais. Como adorava aquelas casinhas tão iguais!
Com o tempo vieram os muros e as cores e tamanhos diferentes de casas. Mas ainda era o seu lugar querido. Corria e corria por aquelas ruas de terra. Por ser a mais veloz, era escolhida para pegar a “bandeira” nos piques, o que lhe rendia, por vezes, não só a “bandeira”, mas também a “cabeça” do dedão do pé que lá ficava em uma pedra do caminho.. O sangue escorria e era preciso lavar e cortar a pele que ficara pendurada.
Um dia veio o asfalto. Que festa! Agora se podia correr e correr sem medo de perder a “cabeça” do dedão. Além disso, quando o sol se punha, era delicioso deitar no asfalto ainda morno. Sempre sentiu dificuldade para adormecer à noite, mas temia cair no sono ali deitada no chão, de tão relaxante que era. Ali adormeceria, certamente, se deixassem. Já adulta, casada, o carro de uns amigos enguiçou na Estrada Rio-Santos, no final da tarde, e lá foi ela deitar no asfalto. É claro que foi chamada de louca e a fizeram levantar imediatamente. Que saudade!
Havia uma senhora na rua que fizera uma promessa a um santo; então, em um determinado dia do ano, ela comprava velas em quantidade suficiente para iluminar toda a rua. A criançada podia ajudar. E lá íamos nós, a acender uma vela a cada metro do meio-fio, nos dois lados da rua. Que beleza ficava a obra pronta. A rua toda iluminada, nos dois lados, por velas. Naquela noite tínhamos permissão para ficar acordados até as velas todas se apagarem, e ainda “rolava” um bate-papo com os comentários de quantos haviam acendido quantas e de como era legal aquilo tudo.
Hoje não há nem sombra da atmosfera romanesca que envolvia aquele bairro. Hoje ele é chamado de favela, ou, com muita benevolência, de comunidade.
(Edna Farias)
Entrava-se no bairro por uma estrada fartamente arborizada. Naquela época, não sabia, mas era flamboaiã. A Estrada, em ambos os lados, era um caminho de flamboaiã. As árvores que margeavam a estrada curvavam-se uma em direção à outra formando um corredor inteiramente coberto.
Gente, como era lindo! Ela olhava e olhava e olhava fartamente para aquele túnel arborizado. Que delícia! Acabada a estrada, estava-se no bairro. Ruazinhas iguais cheias de casinhas iguais. Todas do mesmo tamanho e da mesma cor, igual, igual, em tudo igual.
Ah, mas, para ela, parecia o paraíso. Uma casa de tijolo! um quintal limpinho! uma rua que parecia rua de tão certinha! um bairro que parecia bairro de tão uniforme! Que lugar lindo!
E água e luz elétrica! Era demais!!!
As casas, em sua parecença, não possuíam muros. Era como morar no bairro inteiro, em todo lugar, que era um lugar só. Fartou-se de olhar e olhar e olhar. E, quando todos estavam ocupados com a mudança, abriu os braços e rodou freneticamente como a tomar posse daquele espaço que parecia não acabar mais. Como adorava aquelas casinhas tão iguais!
Com o tempo vieram os muros e as cores e tamanhos diferentes de casas. Mas ainda era o seu lugar querido. Corria e corria por aquelas ruas de terra. Por ser a mais veloz, era escolhida para pegar a “bandeira” nos piques, o que lhe rendia, por vezes, não só a “bandeira”, mas também a “cabeça” do dedão do pé que lá ficava em uma pedra do caminho.. O sangue escorria e era preciso lavar e cortar a pele que ficara pendurada.
Um dia veio o asfalto. Que festa! Agora se podia correr e correr sem medo de perder a “cabeça” do dedão. Além disso, quando o sol se punha, era delicioso deitar no asfalto ainda morno. Sempre sentiu dificuldade para adormecer à noite, mas temia cair no sono ali deitada no chão, de tão relaxante que era. Ali adormeceria, certamente, se deixassem. Já adulta, casada, o carro de uns amigos enguiçou na Estrada Rio-Santos, no final da tarde, e lá foi ela deitar no asfalto. É claro que foi chamada de louca e a fizeram levantar imediatamente. Que saudade!
Havia uma senhora na rua que fizera uma promessa a um santo; então, em um determinado dia do ano, ela comprava velas em quantidade suficiente para iluminar toda a rua. A criançada podia ajudar. E lá íamos nós, a acender uma vela a cada metro do meio-fio, nos dois lados da rua. Que beleza ficava a obra pronta. A rua toda iluminada, nos dois lados, por velas. Naquela noite tínhamos permissão para ficar acordados até as velas todas se apagarem, e ainda “rolava” um bate-papo com os comentários de quantos haviam acendido quantas e de como era legal aquilo tudo.
Hoje não há nem sombra da atmosfera romanesca que envolvia aquele bairro. Hoje ele é chamado de favela, ou, com muita benevolência, de comunidade.
(Edna Farias)
terça-feira, 22 de julho de 2008
Essa mulher.
Que mulher é essa nascida de mim?
Que voluptuosidade é essa que explode de mim?
Que prazer é esse que escorre de mim?
Que êxtase é esse que me toma de mim?
Que mulher é essa?
Ela veio para ficar ou é uma imagem surgida de você?
É um ser ou uma criação?
Quando você passar ela irá contigo?
Nesse caso, o que sobrará de mim?
Essa mulher.
Mulher que você fez despertar.
Mulher que eu fiz parir.
Mulher para você.
Mulher para mim e para o que der e vier.
Que mulher é essa?
Essa é uma mulher que quer.
Essa é uma mulher que pede.
Essa é uma mulher que pode.
Essa é uma mulher que faz.
Essa mulher.
Que voluptuosidade é essa que explode de mim?
Que prazer é esse que escorre de mim?
Que êxtase é esse que me toma de mim?
Que mulher é essa?
Ela veio para ficar ou é uma imagem surgida de você?
É um ser ou uma criação?
Quando você passar ela irá contigo?
Nesse caso, o que sobrará de mim?
Essa mulher.
Mulher que você fez despertar.
Mulher que eu fiz parir.
Mulher para você.
Mulher para mim e para o que der e vier.
Que mulher é essa?
Essa é uma mulher que quer.
Essa é uma mulher que pede.
Essa é uma mulher que pode.
Essa é uma mulher que faz.
Essa mulher.
Por Edna Farias
segunda-feira, 23 de junho de 2008
PERFEIÇÃO
Nem sempre se vê ou se reconhece a perfeição. Pois essa parece algo inexistente; sobrenatural; que, se acontecesse, traria êxtase, elevação, glória divina; e isso ninguém sai por aí experimentando, não é mesmo?
Então, concluiu-se que a perfeição é qualquer coisa assim como o unicórnio: se encontrado, você é abençoado, único, enfim, perfeito.
Pois é. É exatamente sobre essa coisa tão extraordinária que vou escrever. No meu caso, acontece assim: há ocasiões – muito de vez em quando, é verdade – em que meus olhos teimam em ver. Simplesmente ver. É... porque nem sempre é assim, nem sempre eu permito que eles façam aquilo para o que foram talhados - ver; teimo em toldá-los com meus conceitos, convicções, visões.
Porém, no que me distraio, lá vão eles a exercerem a magnífica arte de ver. Vou lhes contar o que, volta e meia, me mostram.
Adoro rosa amarela e, há anos, não ganhava uma sequer. Recebia rosas algumas vezes, mas nunca amarelas. Um dia, estava bastante angustiada por não ter podido ajudar o irmão de minha manicure que sofrera um acidente e falecera. Pensava que deveria ter agido mais rapidamente, ter tentado todos os meus contatos; enfim, não fizera o suficiente. Passei aquela noite me recriminando e, pela manhã, enquanto caminhava para o trabalho de cabeça baixa ainda pensando no assunto, vi, junto a uma grande árvore que estava no meu caminho todos os dias, a rosa amarela mais perfeita. Soube, naquele momento: ela era para mim; ele estava bem; e eu não precisava me atormentar mais.
Outro episódio: estava levando minha mãe para um tratamento quimioterápico. O caminho era pelo Alto da Boa Vista. Há, pelo menos, quatro anos que moro na Tijuca e passo sempre por ali. O caminho é paradisíaco, gosto muito e tudo mais. Nada de tão inusitado até aí. Mas, naquele dia, enquanto a angústia enegrecia meu coração, o trânsito ficou momentaneamente interrompido, e a maior, mais azul e mais bela borboleta passou próximo ao lugar onde eu estava. O bater de suas aniladas asas pareceu levar a escuridão de mim. O pensamento que tive foi: seja lá o for, eu posso suportar, ou Deus não teria me impingido isso. Olhei sorrindo para minha mãe e mostrei a borboleta que já se esquivava.
Poderia contar vários episódios desse tipo. Porém, o milagre que me acontece, sempre que tenho sorte, é receber um sorriso. Às vezes estou tão angustiada, tão voltada para minhas próprias mazelas, e – ao levantar os olhos – deparo-me com alguém que me sorri um doce sorriso feminino; retribuo quase sem pensar, e sempre, sempre, sinto a doçura voltar. E sempre, sempre, reconheço e agradeço a bênção daquele sorriso. Quando estou acompanhada e a outra pessoa percebe que me sorriram, pergunta se conheço. No início dizia que não. Mas agora digo sempre que sim.
Sem dúvida conheço: é alguém especial, e o mundo está cheio desses seres que vivem por buscar despertar, nos outros, aquilo de bom que todos temos.
Por favor, anjos sorridentes, não desistam de mim. Eu os vejo e os prezo.
Edna Farias
Então, concluiu-se que a perfeição é qualquer coisa assim como o unicórnio: se encontrado, você é abençoado, único, enfim, perfeito.
Pois é. É exatamente sobre essa coisa tão extraordinária que vou escrever. No meu caso, acontece assim: há ocasiões – muito de vez em quando, é verdade – em que meus olhos teimam em ver. Simplesmente ver. É... porque nem sempre é assim, nem sempre eu permito que eles façam aquilo para o que foram talhados - ver; teimo em toldá-los com meus conceitos, convicções, visões.
Porém, no que me distraio, lá vão eles a exercerem a magnífica arte de ver. Vou lhes contar o que, volta e meia, me mostram.
Adoro rosa amarela e, há anos, não ganhava uma sequer. Recebia rosas algumas vezes, mas nunca amarelas. Um dia, estava bastante angustiada por não ter podido ajudar o irmão de minha manicure que sofrera um acidente e falecera. Pensava que deveria ter agido mais rapidamente, ter tentado todos os meus contatos; enfim, não fizera o suficiente. Passei aquela noite me recriminando e, pela manhã, enquanto caminhava para o trabalho de cabeça baixa ainda pensando no assunto, vi, junto a uma grande árvore que estava no meu caminho todos os dias, a rosa amarela mais perfeita. Soube, naquele momento: ela era para mim; ele estava bem; e eu não precisava me atormentar mais.
Outro episódio: estava levando minha mãe para um tratamento quimioterápico. O caminho era pelo Alto da Boa Vista. Há, pelo menos, quatro anos que moro na Tijuca e passo sempre por ali. O caminho é paradisíaco, gosto muito e tudo mais. Nada de tão inusitado até aí. Mas, naquele dia, enquanto a angústia enegrecia meu coração, o trânsito ficou momentaneamente interrompido, e a maior, mais azul e mais bela borboleta passou próximo ao lugar onde eu estava. O bater de suas aniladas asas pareceu levar a escuridão de mim. O pensamento que tive foi: seja lá o for, eu posso suportar, ou Deus não teria me impingido isso. Olhei sorrindo para minha mãe e mostrei a borboleta que já se esquivava.
Poderia contar vários episódios desse tipo. Porém, o milagre que me acontece, sempre que tenho sorte, é receber um sorriso. Às vezes estou tão angustiada, tão voltada para minhas próprias mazelas, e – ao levantar os olhos – deparo-me com alguém que me sorri um doce sorriso feminino; retribuo quase sem pensar, e sempre, sempre, sinto a doçura voltar. E sempre, sempre, reconheço e agradeço a bênção daquele sorriso. Quando estou acompanhada e a outra pessoa percebe que me sorriram, pergunta se conheço. No início dizia que não. Mas agora digo sempre que sim.
Sem dúvida conheço: é alguém especial, e o mundo está cheio desses seres que vivem por buscar despertar, nos outros, aquilo de bom que todos temos.
Por favor, anjos sorridentes, não desistam de mim. Eu os vejo e os prezo.
Edna Farias
segunda-feira, 5 de maio de 2008
Fazer monografia é moleza!
“O sucesso é construído à noite! Durante o dia você faz o que todos fazem.”
Não conheço ninguém que conseguiu realizar seu sonho, sem sacrificar feriados e domingos pelo menos uma centena de vezes.
Da mesma forma, se você quiser construir uma relação amiga com seus filhos, terá que se dedicar a isso, superar o cansaço, arrumar tempo para ficar com eles, deixar de lado o orgulho e o comodismo.
Se quiser um casamento gratificante, terá que investir tempo, energia e sentimentos nesse objectivo, pois ao contrário, acabará perdendo seu grande amor.O sucesso é construído à noite! Durante o dia você faz o que todos fazem.
Mas, para obter um resultado diferente da maioria, você tem que ser especial.Se fizer igual a todo mundo, obterá os mesmos resultados.
Não se compare à maioria, pois infelizmente ela não é modelo de sucesso.Se você quiser atingir uma meta especial, terá que estudar no horário em que os outros estão tomando chope com batatas fritas. Terá de planear, enquanto os outros permanecem à frente da televisão. Terá de trabalhar enquanto os outros tomam sol à beira da piscina.A realização de um sonho depende de dedicação. Há muita gente que espera que o sonho se realize por mágica. Mas toda mágica é ilusão. A ilusão não tira ninguém de onde está. Ilusão é combustível de perdedores.
“Quem quer fazer alguma coisa, encontra um Meio. Quem não quer fazer nada, encontra uma desculpa.”
Não conheço ninguém que conseguiu realizar seu sonho, sem sacrificar feriados e domingos pelo menos uma centena de vezes.
Da mesma forma, se você quiser construir uma relação amiga com seus filhos, terá que se dedicar a isso, superar o cansaço, arrumar tempo para ficar com eles, deixar de lado o orgulho e o comodismo.
Se quiser um casamento gratificante, terá que investir tempo, energia e sentimentos nesse objectivo, pois ao contrário, acabará perdendo seu grande amor.O sucesso é construído à noite! Durante o dia você faz o que todos fazem.
Mas, para obter um resultado diferente da maioria, você tem que ser especial.Se fizer igual a todo mundo, obterá os mesmos resultados.
Não se compare à maioria, pois infelizmente ela não é modelo de sucesso.Se você quiser atingir uma meta especial, terá que estudar no horário em que os outros estão tomando chope com batatas fritas. Terá de planear, enquanto os outros permanecem à frente da televisão. Terá de trabalhar enquanto os outros tomam sol à beira da piscina.A realização de um sonho depende de dedicação. Há muita gente que espera que o sonho se realize por mágica. Mas toda mágica é ilusão. A ilusão não tira ninguém de onde está. Ilusão é combustível de perdedores.
“Quem quer fazer alguma coisa, encontra um Meio. Quem não quer fazer nada, encontra uma desculpa.”
Símbolos
Na idade média os livros eram escritos pelos copistas à mão.
Precursores da taquigrafia, os copistas simplificavam o trabalho substituindo letras, palavras e nomes próprios, por símbolos, sinais e abreviaturas. Não era por economia de esforço nem para o trabalho ser mais rápido. O motivo era de ordem econômica: tinta e papel eram valiosíssimos.
Foi assim que surgiu o til (~), para substituir uma letra (um "m" ou um "n") que nasalizava a vogal anterior. Um til é um enezinho sobre a letra, pode olhar.
O nome espanhol Francisco, que também era grafado "Phrancisco", ficou com a abreviatura "Phco." e "Pco". Daí foi fácil o nome Francisco ganhar em espanhol o apelido Paco.
Os santos, ao serem citados pelos copistas, eram identificados por um feito significativo em suas vidas. Assim, o nome de São José aparecia seguido de "Jesus Christi Pater Putativus", ou
seja, o pai putativo (suposto) de Jesus Cristo. Mais tarde os copistas passaram a adotar a abreviatura "JHS PP" e depois "PP". A pronúncia dessas letras em seqüência explica porque José em espanhol tem o apelido de Pepe.
Precursores da taquigrafia, os copistas simplificavam o trabalho substituindo letras, palavras e nomes próprios, por símbolos, sinais e abreviaturas. Não era por economia de esforço nem para o trabalho ser mais rápido. O motivo era de ordem econômica: tinta e papel eram valiosíssimos.
Foi assim que surgiu o til (~), para substituir uma letra (um "m" ou um "n") que nasalizava a vogal anterior. Um til é um enezinho sobre a letra, pode olhar.
O nome espanhol Francisco, que também era grafado "Phrancisco", ficou com a abreviatura "Phco." e "Pco". Daí foi fácil o nome Francisco ganhar em espanhol o apelido Paco.
Os santos, ao serem citados pelos copistas, eram identificados por um feito significativo em suas vidas. Assim, o nome de São José aparecia seguido de "Jesus Christi Pater Putativus", ou
seja, o pai putativo (suposto) de Jesus Cristo. Mais tarde os copistas passaram a adotar a abreviatura "JHS PP" e depois "PP". A pronúncia dessas letras em seqüência explica porque José em espanhol tem o apelido de Pepe.
Já para substituir a palavra latina et (e), os copistas criaram um símbolo que é o resultado do entrelaçamento dessas duas letras: &. Esse sinal é popularmente conhecido como "e comercial" e em inglês, tem o nome de ampersand, que vem do and (e em inglês) + per se do latim por si) + and.
Com o mesmo recurso do entrelaçamento de suas letras, os copistas criaram o símbolo @ para substituir a preposição latina ad, que tinha, entre outros, o sentido de "casa de".
Veio a imprensa, foram-se os copistas, mas os símbolos @ e & continuaram a ser usados nos livros de contabilidade. O @ aparecia entre o número de unidades da mercadoria e o preço - por exemplo :o registro contábil "10@£3" significava "10 unidades ao preço de 3 libras cada uma". Nessa época o símbolo @ já ficou conhecido como, em inglês, "at" (a ou em).
No século XIX, nos portos da Catalunha (nordeste da Espanha), o comércio e a indústria procuravam imitar práticas comerciais e contábeis dos ingleses. Como os espanhóis desconheciam o sentido que os ingleses atribuíam ao símbolo @ (a ou em), acharam que
o símbolo seria uma unidade de peso - por engano . Para o entendimento contribuíram duas coincidências :
1- a unidade de peso comum para os espanhóis na época era a arroba, cujo "a" inicial lembra a forma do símbolo;
2- os carregamentos desembarcados vinham freqüentemente em fardos de uma arroba. Dessa forma, os espanhóis interpretavam aquele mesmo registro de "10@£3"assim: " dez arrobas custando 3 libras cada uma".
_____
Então o símbolo @ passou a ser usado pelos espanhóis para significar arroba.
Arroba veio do árabe ar-ruba, que significa "a quarta parte": arroba (15 kg em números redondos) correspondia a ¼ de outra medida de origem árabe(quintar), o quintal (58,75 kg).
As máquinas de escrever, na sua forma definitiva, começaram a ser comercializadas em 1874, nos Estados Unidos (Mark Twain foi o primeiro autor a apresentar seus originais datilografados).
O teclado tinha o símbolo "@", que sobreviveu nos teclados dos computadores.
Em 1972, ao desenvolver o primeiro programa de correio eletrônico (e-mail), Roy Tomlinson aproveitou o sentido "@" (at -em Inglês), disponível no teclado, e utilizou-o entre o nome do
usuário e o nome do provedor.
Assim Fulano@ProvedorX ficou significando: "Fulano no provedor (ou na casa) X".
Em diversos idiomas, o símbolo "@" ficou com o nome de alguma coisa parecida com sua forma.
Em italiano chiocciola (caracol), em sueco snabel (tromba de elefante), em holandês, apestaart (rabo de macaco). Em outros idiomas, tem o nome de um doce em forma circular: shtrudel, em Israel; strudel, na Áustria; pretzel, em vários países europeus.
Autor desconhecido.
quinta-feira, 10 de abril de 2008
Como podemos ser tão diferentes e tão iguais?
Retirado de http://diplo.uol.com.br/2004-08,a974
CULTURA
A língua árabe, o Rolls Royce e o Volkswagen
No debate sobre a reforma do islã, algumas pessoas exigem dos árabes que modifiquem também sua língua: que escolham definitivamente o árabe clássico e abandonem o árabe dialetal. Antes de sua morte em setembro do ano passado, Edward W. Said explicou por que essa exigência reflete um extraordinário desdém pela riqueza da experiência cotidiana expressa pela língua popular
Edward W. Said
n em
A fixação da mídia dos Estados Unidos no terrorismo parece resumir tudo o que diz respeito aos árabes
A prática da fala e da escrita do árabe constitui objeto de controvérsias. É uma questão muito mais temerosa à medida que depende de fatores ideológicos que nada têm a ver com a própria experiência dessa língua pelos falantes indígenas. Não sei de onde vem a concepção de que o árabe exprimiria essencialmente uma violência aterradora e incompreensível, mas é evidente que todos aqueles loucos de turbante das telas de Hollywood das décadas de 40 e de 50, falando a suas vítimas num tom irritado, com um deleite sádico, têm algo a ver com ela. Mais recentemente, também contribuiu para isso a fixação da mídia dos Estados Unidos no terrorismo e que parece resumir tudo o que diz respeito aos árabes.
E, no entanto, a retórica e a eloqüência na tradição literária árabe remontam a um milênio: foram os escritores abássidas, como Al-Jahiz e Al-Jurjani, que elaboraram sistemas incrivelmente complexos e espantosamente modernos para que se pudesse compreender a retórica, a eloqüência e os tropos1 . Mas todo seu trabalho se baseia no árabe clássico escrito, e não no falar cotidiano. Porque o primeiro é dominado pelo Corão – que é, ao mesmo tempo, origem e modelo de tudo o que vem depois dele em matéria lingüística.
Expliquemos esse ponto, muito pouco familiar aos usuários das línguas européias modernas, nas quais há uma correspondência entre as versões falada e literária e nas quais a Sagrada Escritura perdeu inteiramente sua autoridade verbal.
Diversidade e riqueza
Todos os árabes usam um dialeto falado que varia de uma região para outra ou de um país a outro
Todos os árabes usam um dialeto falado que varia consideravelmente de uma região para outra ou de um país a outro. Cresci numa família cuja língua falada era uma mistura do que era correntemente utilizado na Palestina, no Líbano e na Síria: esses três dialetos apresentavam diferenças suficientes para que se pudesse distinguir, por exemplo, um habitante de Jerusalém de um outro de Beirute ou ainda de Damasco – mas os três podiam comunicar-se entre si sem grande dificuldade.
Como fui à escola no Cairo e como ali passei a maior parte de minha juventude, eu também falava – e correntemente – o dialeto egípcio, muito mais rápido e elegante que os outros aprendidos com minha família. Além disso, o egípcio era mais difundido: quase todos os filmes árabes, as novelas radiofônicas e, depois, as novelas televisionadas, eram produzidos no Egito. Seu idioma tornou-se, desse modo, familiar para os habitantes de todo o mundo árabe.
Durante as décadas de 70 e 80, o boom do petróleo acarretou a produção de novelas televisionadas para outros países, desta vez em árabe clássico. Essas novelas, com os personagens vestidos a caráter, pomposas e pesadas, eram tidas como adequadas aos gostos dos muçulmanos (e dos cristãos antiquados, geralmente mais puritanos), que os filmes cairotas cheios de verve poderiam chocar. E, para nós, elas pareciam terrivelmente chatas! A mousalsal (novela) egípcia mais improvisada nos divertia mil vezes mais que o melhor dos dramas feitos sob medida em língua clássica.
Literatura sem dialetos
Mesmo os escritores ditos "regionais" têm tendência a utilizar a língua moderna clássica e raramente, o árabe dialetal
Em todo caso, de todos os dialetos, só o egípcio teve tal divulgação. Dessa forma, eu teria a maior dificuldade do mundo para compreender um argelino, tamanha é a diferença entre os dialetos do Machrek e os do Magreb. E teria a mesma dificuldade com um iraquiano ou até com um interlocutor dotado de forte sotaque do Golfo. É por isso que as informações divulgadas pela rádio ou pela televisão utilizam uma versão modificada e modernizada da língua clássica, que pode ser compreendida pelo conjunto do mundo árabe, do Golfo ao Marrocos – quer se trate de debates, de documentários, de reuniões, de seminários, de sermões de mesquita, ou de discursos em manifestações nacionalistas e de encontros de todos os dias entre os cidadãos que falam línguas muito diferentes.
A exemplo do latim para os dialetos europeus falados até um século atrás, o árabe clássico permaneceu muito presente e muito vivo enquanto língua comum da escrita, apesar dos imensos recursos de toda uma série de dialetos falados que, com exceção do caso egípcio, nunca foram difundidos além do país em que são usados. Além disso, esses dialetos falados não possuem a vasta literatura da lingua franca2 clássica.
Mesmo os escritores ditos "regionais" têm tendência a utilizar a língua moderna clássica e só ocasionalmente recorrem ao árabe dialetal. Na prática, uma pessoa culta tem, de fato, dois usos lingüísticos muito distintos. A tal ponto que, por exemplo, você está conversando com um repórter de um jornal ou de uma televisão em dialetal e depois, de repente, quando a gravação começa, você passa sem transição para a língua clássica, intrinsecamente mais formal e mais cuidada.
Lógica e abstração
A língua clássica também funciona como ponto de convergência sem igual em relação à cultura árabe
Existe, evidentemente, um elo entre os dois idiomas: freqüentemente, as letras são idênticas e a ordem das palavras também. Mas os termos e a pronúncia diferem à medida que o árabe clássico, versão padrão da língua, perde qualquer marca de dialeto regional ou local e emerge como um instrumento sonoro, cuidadosamente modulado, culto, extraordinariamente flexível, cujas fórmulas permitem uma grande eloqüência. Corretamente utilizado, o árabe clássico é único quanto à precisão da expressão e à surpreendente maneira pela qual as variações das letras individuais numa palavra (muito particularmente as terminações) permitem expressar coisas muito distintas.
É também uma língua que funciona como ponto de convergência sem igual em relação à cultura árabe: como escreveu Jaroslav Stekevych, que lhe dedicou a melhor obra moderna3 , "como Vênus, ela nasceu num estado de beleza perfeita, e conservou essa beleza a despeito das peripécias da história e das forças do tempo". Para o estudante ocidental, "o árabe sugere uma idéia de atração quase matemática. O sistema perfeito das três consoantes radicais, as formas aumentativas dos verbos com seus significados de base, a formação precisa do substantivo verbal, dos particípios. Tudo é clareza, lógica, sistema e abstração". Mas é também um belo objeto para se olhar em sua forma escrita. Donde o papel central e duradouro da caligrafia, arte combinatória da mais alta complexidade, mais próxima do ornamento e do arabesco do que da explicitação discursiva.
Durante os primeiros dias da guerra no Afeganistão, na emissora de televisão por satélite árabe Al-Jazira, apresentavam-se discussões e reportagens impossíveis de serem vistas na mídia norte-americana. O que era surpreendente, deixando de lado o conteúdo desses programas, era, apesar da complexidade das questões abordadas, o alto nível de eloqüência que caracterizava os participantes às voltas com as maiores dificuldades – e mesmo os mais repulsivos, inclusive Osama bin Laden. Este falava com uma voz doce, sem hesitar nem cometer o menor lapso, o que certamente conta para sua influência. Era também o caso, em menor grau, de não árabes, como os afegãos Burhanuddin Rabbani e Gulbuddin Hekmatyar. Hikmat Gulbandyar, que, sem dominar o dialetal árabe, recorreram com extraordinária facilidade à língua clássica.
Libertação da língua
Comparada com a prosa moderna, a linguagem do Corão tem ares de poesia sonora
Evidentemente, o que, em nossos dias, é chamado de árabe moderno padrão (ou clássico) não é exatamente a língua em que foi escrito o Corão há quatorze séculos. Embora o livro sagrado continue sendo um texto muito estudado, sua língua parece antiga, e até enfática e, portanto, inutilizável para a vida de todo dia. Comparada com a prosa moderna, ela tem ares de poesia sonora.
O árabe clássico moderno resulta do processo de modernização iniciado durante as últimas décadas do século XIX – o período da Nahda, ou renascimento. Isso se deveu, principalmente, a um grupo de homens na Síria, no Líbano, na Palestina e no Egito (dentre os quais um número surpreendente de cristãos). Eles se dedicaram coletivamente à transformação da língua árabe, modificando e simplificando um pouco a sintaxe do original do século VII pelo viés de uma arabização (isti’rab): tratava-se de introduzir palavras como "trem", "companhia", "democracia" ou "socialismo", que, é claro, não existiam durante o período clássico. Como? Utilizando os enormes recursos da língua graças ao procedimento gramatical técnico da al-qiyas, a analogia. Esses homens impuseram todo um novo vocabulário que, atualmente, representa cerca de 60% da língua clássica padrão. Desse modo, a Nahda levou a uma libertação dos textos religiosos, introduzindo sub-repticiamente um novo secularismo no que os árabes disseram e escreveram.
A gramática árabe é tão sofisticada e sedutora por sua lógica que um aluno mais velho a estuda muito mais facilmente, pois pode apreciar as sutilezas de seu raciocínio. Ironicamente, é nos institutos lingüísticos no Egito, na Tunísia, na Síria, no Líbano e no Vermont que o melhor ensino do árabe é dado a não árabes.
Como fala o povo
Líderes populares como Yasser Arafat e Gamal Abdel Nasser utilizavam muito melhor o dialetal que os marxistas
Quando a guerra árabo-israelense de 1967 me levou a me engajar politicamente à distância, uma coisa me impressionou acima de tudo: a política não era conduzida em ‘ameya, ou língua do grande público, como se chama o árabe dialetal, mas, na maioria das vezes, em rigoroso e formal fosha, ou língua clássica. Compreendi rapidamente que as análises políticas eram apresentadas nas manifestações e nas reuniões de modo a parecerem mais profundas do que eram. Descobri, para minha grande decepção, que isso era particularmente verdadeiro em relação às abordagens do jargão dos marxistas e dos movimentos de libertação da época: as descrições de classe, de interesses materiais, aqueles do capital e do movimento operário, eram arabizadas e dirigidas, em longos monólogos, não ao povo, mas a outros militantes sofisticados.
Em particular, líderes populares como Yasser Arafat e Gamal Abdel Nasser, com quem tive contatos, utilizavam muito melhor o dialetal que os marxistas, os quais eram também mais cultos que os líderes palestino ou egípcio. Nasser, principalmente, falava às massas de seus partidários em dialeto egípcio com as frases sonoras do fosha. Quanto a Arafat, dado que a eloqüência árabe depende muito da entonação, ele tem uma reputação de orador abaixo da média: seus erros de pronúncia, suas hesitações e seus circunlóquios inábeis parecem, para um ouvido educado, um elefante andando numa loja de porcelana.
A Universidade Al-Azhar, no Cairo, representa uma das mais antigas instituições de ensino superior do mundo; é também considerada a sede da ortodoxia islâmica, pois seu reitor é a mais alta autoridade religiosa do Egito sunita. Mais ainda: Al-Azhar ensina – essencialmente, mas não exclusivamente – o saber islâmico, cujo cerne é o Corão, assim como tudo o que o acompanha em matéria de métodos de interpretação, de jurisprudência, de hadiths4 , de língua e de gramática.
Verbo divino
O domínio do árabe clássico encontra-se no cerne mesmo do ensino islâmico, para os árabes e outros muçulmanos
O domínio do árabe clássico encontra-se, pois, no cerne mesmo do ensino islâmico de Al-Azhar, para os árabes e para os outros muçulmanos. Porque os muçulmanos consideram o Corão como o Verbo de Deus incriado, "descido" (mounzal) através de uma série de revelações feitas a Maomé. Conseqüentemente, a língua do Corão é sagrada; contém regras e paradigmas obrigatórios para aqueles que a utilizam, ainda que, de forma bastante paradoxal, não possam imitá-la por razão doutrinária (ijaz).
Há sessenta anos, as pessoas escutavam os oradores e comentavam de modo infindável a correção de sua linguagem tanto quanto o que tinham para dizer. Quando fiz meu primeiro discurso em árabe, no Cairo, há duas décadas, um de meus parentes jovens aproximou-se de mim depois que acabei para me dizer o quanto ele estava decepcionado pelo fato de eu não ter sido mais eloqüente. "Mas você compreendeu o que eu disse", perguntei-lhe numa voz triste – minha principal preocupação era ser compreendido em relação a alguns pontos delicados de política e de filosofia. "Ah! sim, é claro", respondeu num tom desdenhoso, "não houve nenhum problema: mas você não foi suficientemente eloqüente ou retórico."
Prosa afiada
Essa reprimenda ainda me persegue quando falo em público. Sou incapaz de me transformar em orador eloqüente. Misturo os idiomas dialetais e clássicos de modo pragmático, com resultados mitigados. Como delicadamente me observaram uma vez, pareço alguém que tem um Rolls Royce mas prefere utilizar um Volkswagen.
n em
A melhor, a mais depurada, a mais incisiva das prosas árabes que já li ou ouvi foi escrita por romancistas
Somente ao longo dos últimos dez ou quinze anos é que descobri isto: a melhor, a mais depurada, a mais incisiva das prosas árabes que já li ou ouvi foi escrita por romancistas (e não por críticos), como Elias Khoury ou Gamal Al-Ghitany. Ou por nossos dois maiores poetas vivos, Adonis e Mahmud Darwish: cada um deles atinge, em suas odes, alturas rapsódicas tão elevadas que arrebata enormes auditórios em frenesis de encantamento entusiasta. Para eles, a prosa é um instrumento aristotélico afiado como uma navalha. Seu conhecimento da linguagem é tão imenso e tão natural, seus dons tão poderosos, que eles podem ser, ao mesmo tempo, eloqüentes e claros, sem precisar de palavras que alongam o texto e nada lhe acrescentam, de verbosidade cansativa ou de exibição vã.
(Trad: Iraci D. Poleti)
1 - Figura por meio da qual uma palavra ou uma expressão é empregada em sentido figurado.
2 - Língua mestiça, próxima do italiano, que serviu, durante vários séculos, em toda a volta do Mediterrâneo, para a comunicação entre os cristãos de diversas origens e a população muçulmana.
3 - Reorientation. Arabic and Persian Poetry, Indiana University Press, Bloomington, 1994.
4 - Palavras e atos de Maomé e de seus companheiros.
CULTURA
A língua árabe, o Rolls Royce e o Volkswagen
No debate sobre a reforma do islã, algumas pessoas exigem dos árabes que modifiquem também sua língua: que escolham definitivamente o árabe clássico e abandonem o árabe dialetal. Antes de sua morte em setembro do ano passado, Edward W. Said explicou por que essa exigência reflete um extraordinário desdém pela riqueza da experiência cotidiana expressa pela língua popular
Edward W. Said
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A fixação da mídia dos Estados Unidos no terrorismo parece resumir tudo o que diz respeito aos árabes
A prática da fala e da escrita do árabe constitui objeto de controvérsias. É uma questão muito mais temerosa à medida que depende de fatores ideológicos que nada têm a ver com a própria experiência dessa língua pelos falantes indígenas. Não sei de onde vem a concepção de que o árabe exprimiria essencialmente uma violência aterradora e incompreensível, mas é evidente que todos aqueles loucos de turbante das telas de Hollywood das décadas de 40 e de 50, falando a suas vítimas num tom irritado, com um deleite sádico, têm algo a ver com ela. Mais recentemente, também contribuiu para isso a fixação da mídia dos Estados Unidos no terrorismo e que parece resumir tudo o que diz respeito aos árabes.
E, no entanto, a retórica e a eloqüência na tradição literária árabe remontam a um milênio: foram os escritores abássidas, como Al-Jahiz e Al-Jurjani, que elaboraram sistemas incrivelmente complexos e espantosamente modernos para que se pudesse compreender a retórica, a eloqüência e os tropos1 . Mas todo seu trabalho se baseia no árabe clássico escrito, e não no falar cotidiano. Porque o primeiro é dominado pelo Corão – que é, ao mesmo tempo, origem e modelo de tudo o que vem depois dele em matéria lingüística.
Expliquemos esse ponto, muito pouco familiar aos usuários das línguas européias modernas, nas quais há uma correspondência entre as versões falada e literária e nas quais a Sagrada Escritura perdeu inteiramente sua autoridade verbal.
Diversidade e riqueza
Todos os árabes usam um dialeto falado que varia de uma região para outra ou de um país a outro
Todos os árabes usam um dialeto falado que varia consideravelmente de uma região para outra ou de um país a outro. Cresci numa família cuja língua falada era uma mistura do que era correntemente utilizado na Palestina, no Líbano e na Síria: esses três dialetos apresentavam diferenças suficientes para que se pudesse distinguir, por exemplo, um habitante de Jerusalém de um outro de Beirute ou ainda de Damasco – mas os três podiam comunicar-se entre si sem grande dificuldade.
Como fui à escola no Cairo e como ali passei a maior parte de minha juventude, eu também falava – e correntemente – o dialeto egípcio, muito mais rápido e elegante que os outros aprendidos com minha família. Além disso, o egípcio era mais difundido: quase todos os filmes árabes, as novelas radiofônicas e, depois, as novelas televisionadas, eram produzidos no Egito. Seu idioma tornou-se, desse modo, familiar para os habitantes de todo o mundo árabe.
Durante as décadas de 70 e 80, o boom do petróleo acarretou a produção de novelas televisionadas para outros países, desta vez em árabe clássico. Essas novelas, com os personagens vestidos a caráter, pomposas e pesadas, eram tidas como adequadas aos gostos dos muçulmanos (e dos cristãos antiquados, geralmente mais puritanos), que os filmes cairotas cheios de verve poderiam chocar. E, para nós, elas pareciam terrivelmente chatas! A mousalsal (novela) egípcia mais improvisada nos divertia mil vezes mais que o melhor dos dramas feitos sob medida em língua clássica.
Literatura sem dialetos
Mesmo os escritores ditos "regionais" têm tendência a utilizar a língua moderna clássica e raramente, o árabe dialetal
Em todo caso, de todos os dialetos, só o egípcio teve tal divulgação. Dessa forma, eu teria a maior dificuldade do mundo para compreender um argelino, tamanha é a diferença entre os dialetos do Machrek e os do Magreb. E teria a mesma dificuldade com um iraquiano ou até com um interlocutor dotado de forte sotaque do Golfo. É por isso que as informações divulgadas pela rádio ou pela televisão utilizam uma versão modificada e modernizada da língua clássica, que pode ser compreendida pelo conjunto do mundo árabe, do Golfo ao Marrocos – quer se trate de debates, de documentários, de reuniões, de seminários, de sermões de mesquita, ou de discursos em manifestações nacionalistas e de encontros de todos os dias entre os cidadãos que falam línguas muito diferentes.
A exemplo do latim para os dialetos europeus falados até um século atrás, o árabe clássico permaneceu muito presente e muito vivo enquanto língua comum da escrita, apesar dos imensos recursos de toda uma série de dialetos falados que, com exceção do caso egípcio, nunca foram difundidos além do país em que são usados. Além disso, esses dialetos falados não possuem a vasta literatura da lingua franca2 clássica.
Mesmo os escritores ditos "regionais" têm tendência a utilizar a língua moderna clássica e só ocasionalmente recorrem ao árabe dialetal. Na prática, uma pessoa culta tem, de fato, dois usos lingüísticos muito distintos. A tal ponto que, por exemplo, você está conversando com um repórter de um jornal ou de uma televisão em dialetal e depois, de repente, quando a gravação começa, você passa sem transição para a língua clássica, intrinsecamente mais formal e mais cuidada.
Lógica e abstração
A língua clássica também funciona como ponto de convergência sem igual em relação à cultura árabe
Existe, evidentemente, um elo entre os dois idiomas: freqüentemente, as letras são idênticas e a ordem das palavras também. Mas os termos e a pronúncia diferem à medida que o árabe clássico, versão padrão da língua, perde qualquer marca de dialeto regional ou local e emerge como um instrumento sonoro, cuidadosamente modulado, culto, extraordinariamente flexível, cujas fórmulas permitem uma grande eloqüência. Corretamente utilizado, o árabe clássico é único quanto à precisão da expressão e à surpreendente maneira pela qual as variações das letras individuais numa palavra (muito particularmente as terminações) permitem expressar coisas muito distintas.
É também uma língua que funciona como ponto de convergência sem igual em relação à cultura árabe: como escreveu Jaroslav Stekevych, que lhe dedicou a melhor obra moderna3 , "como Vênus, ela nasceu num estado de beleza perfeita, e conservou essa beleza a despeito das peripécias da história e das forças do tempo". Para o estudante ocidental, "o árabe sugere uma idéia de atração quase matemática. O sistema perfeito das três consoantes radicais, as formas aumentativas dos verbos com seus significados de base, a formação precisa do substantivo verbal, dos particípios. Tudo é clareza, lógica, sistema e abstração". Mas é também um belo objeto para se olhar em sua forma escrita. Donde o papel central e duradouro da caligrafia, arte combinatória da mais alta complexidade, mais próxima do ornamento e do arabesco do que da explicitação discursiva.
Durante os primeiros dias da guerra no Afeganistão, na emissora de televisão por satélite árabe Al-Jazira, apresentavam-se discussões e reportagens impossíveis de serem vistas na mídia norte-americana. O que era surpreendente, deixando de lado o conteúdo desses programas, era, apesar da complexidade das questões abordadas, o alto nível de eloqüência que caracterizava os participantes às voltas com as maiores dificuldades – e mesmo os mais repulsivos, inclusive Osama bin Laden. Este falava com uma voz doce, sem hesitar nem cometer o menor lapso, o que certamente conta para sua influência. Era também o caso, em menor grau, de não árabes, como os afegãos Burhanuddin Rabbani e Gulbuddin Hekmatyar. Hikmat Gulbandyar, que, sem dominar o dialetal árabe, recorreram com extraordinária facilidade à língua clássica.
Libertação da língua
Comparada com a prosa moderna, a linguagem do Corão tem ares de poesia sonora
Evidentemente, o que, em nossos dias, é chamado de árabe moderno padrão (ou clássico) não é exatamente a língua em que foi escrito o Corão há quatorze séculos. Embora o livro sagrado continue sendo um texto muito estudado, sua língua parece antiga, e até enfática e, portanto, inutilizável para a vida de todo dia. Comparada com a prosa moderna, ela tem ares de poesia sonora.
O árabe clássico moderno resulta do processo de modernização iniciado durante as últimas décadas do século XIX – o período da Nahda, ou renascimento. Isso se deveu, principalmente, a um grupo de homens na Síria, no Líbano, na Palestina e no Egito (dentre os quais um número surpreendente de cristãos). Eles se dedicaram coletivamente à transformação da língua árabe, modificando e simplificando um pouco a sintaxe do original do século VII pelo viés de uma arabização (isti’rab): tratava-se de introduzir palavras como "trem", "companhia", "democracia" ou "socialismo", que, é claro, não existiam durante o período clássico. Como? Utilizando os enormes recursos da língua graças ao procedimento gramatical técnico da al-qiyas, a analogia. Esses homens impuseram todo um novo vocabulário que, atualmente, representa cerca de 60% da língua clássica padrão. Desse modo, a Nahda levou a uma libertação dos textos religiosos, introduzindo sub-repticiamente um novo secularismo no que os árabes disseram e escreveram.
A gramática árabe é tão sofisticada e sedutora por sua lógica que um aluno mais velho a estuda muito mais facilmente, pois pode apreciar as sutilezas de seu raciocínio. Ironicamente, é nos institutos lingüísticos no Egito, na Tunísia, na Síria, no Líbano e no Vermont que o melhor ensino do árabe é dado a não árabes.
Como fala o povo
Líderes populares como Yasser Arafat e Gamal Abdel Nasser utilizavam muito melhor o dialetal que os marxistas
Quando a guerra árabo-israelense de 1967 me levou a me engajar politicamente à distância, uma coisa me impressionou acima de tudo: a política não era conduzida em ‘ameya, ou língua do grande público, como se chama o árabe dialetal, mas, na maioria das vezes, em rigoroso e formal fosha, ou língua clássica. Compreendi rapidamente que as análises políticas eram apresentadas nas manifestações e nas reuniões de modo a parecerem mais profundas do que eram. Descobri, para minha grande decepção, que isso era particularmente verdadeiro em relação às abordagens do jargão dos marxistas e dos movimentos de libertação da época: as descrições de classe, de interesses materiais, aqueles do capital e do movimento operário, eram arabizadas e dirigidas, em longos monólogos, não ao povo, mas a outros militantes sofisticados.
Em particular, líderes populares como Yasser Arafat e Gamal Abdel Nasser, com quem tive contatos, utilizavam muito melhor o dialetal que os marxistas, os quais eram também mais cultos que os líderes palestino ou egípcio. Nasser, principalmente, falava às massas de seus partidários em dialeto egípcio com as frases sonoras do fosha. Quanto a Arafat, dado que a eloqüência árabe depende muito da entonação, ele tem uma reputação de orador abaixo da média: seus erros de pronúncia, suas hesitações e seus circunlóquios inábeis parecem, para um ouvido educado, um elefante andando numa loja de porcelana.
A Universidade Al-Azhar, no Cairo, representa uma das mais antigas instituições de ensino superior do mundo; é também considerada a sede da ortodoxia islâmica, pois seu reitor é a mais alta autoridade religiosa do Egito sunita. Mais ainda: Al-Azhar ensina – essencialmente, mas não exclusivamente – o saber islâmico, cujo cerne é o Corão, assim como tudo o que o acompanha em matéria de métodos de interpretação, de jurisprudência, de hadiths4 , de língua e de gramática.
Verbo divino
O domínio do árabe clássico encontra-se no cerne mesmo do ensino islâmico, para os árabes e outros muçulmanos
O domínio do árabe clássico encontra-se, pois, no cerne mesmo do ensino islâmico de Al-Azhar, para os árabes e para os outros muçulmanos. Porque os muçulmanos consideram o Corão como o Verbo de Deus incriado, "descido" (mounzal) através de uma série de revelações feitas a Maomé. Conseqüentemente, a língua do Corão é sagrada; contém regras e paradigmas obrigatórios para aqueles que a utilizam, ainda que, de forma bastante paradoxal, não possam imitá-la por razão doutrinária (ijaz).
Há sessenta anos, as pessoas escutavam os oradores e comentavam de modo infindável a correção de sua linguagem tanto quanto o que tinham para dizer. Quando fiz meu primeiro discurso em árabe, no Cairo, há duas décadas, um de meus parentes jovens aproximou-se de mim depois que acabei para me dizer o quanto ele estava decepcionado pelo fato de eu não ter sido mais eloqüente. "Mas você compreendeu o que eu disse", perguntei-lhe numa voz triste – minha principal preocupação era ser compreendido em relação a alguns pontos delicados de política e de filosofia. "Ah! sim, é claro", respondeu num tom desdenhoso, "não houve nenhum problema: mas você não foi suficientemente eloqüente ou retórico."
Prosa afiada
Essa reprimenda ainda me persegue quando falo em público. Sou incapaz de me transformar em orador eloqüente. Misturo os idiomas dialetais e clássicos de modo pragmático, com resultados mitigados. Como delicadamente me observaram uma vez, pareço alguém que tem um Rolls Royce mas prefere utilizar um Volkswagen.
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A melhor, a mais depurada, a mais incisiva das prosas árabes que já li ou ouvi foi escrita por romancistas
Somente ao longo dos últimos dez ou quinze anos é que descobri isto: a melhor, a mais depurada, a mais incisiva das prosas árabes que já li ou ouvi foi escrita por romancistas (e não por críticos), como Elias Khoury ou Gamal Al-Ghitany. Ou por nossos dois maiores poetas vivos, Adonis e Mahmud Darwish: cada um deles atinge, em suas odes, alturas rapsódicas tão elevadas que arrebata enormes auditórios em frenesis de encantamento entusiasta. Para eles, a prosa é um instrumento aristotélico afiado como uma navalha. Seu conhecimento da linguagem é tão imenso e tão natural, seus dons tão poderosos, que eles podem ser, ao mesmo tempo, eloqüentes e claros, sem precisar de palavras que alongam o texto e nada lhe acrescentam, de verbosidade cansativa ou de exibição vã.
(Trad: Iraci D. Poleti)
1 - Figura por meio da qual uma palavra ou uma expressão é empregada em sentido figurado.
2 - Língua mestiça, próxima do italiano, que serviu, durante vários séculos, em toda a volta do Mediterrâneo, para a comunicação entre os cristãos de diversas origens e a população muçulmana.
3 - Reorientation. Arabic and Persian Poetry, Indiana University Press, Bloomington, 1994.
4 - Palavras e atos de Maomé e de seus companheiros.
quinta-feira, 27 de março de 2008
O texto que se segue foi escrito para uma formatura da FAAP, por Nizan Guanaes, paraninfo da turma.
'Dizem que conselho só se dá a quem pede. E, se vocês me convidaram para paraninfo, estou tentado a acreditar que tenho licença para dar alguns. Portanto, apesar da minha pouca autoridade para dar conselhos a quem quer que seja aqui vão alguns, que julgo valiosos.
Meu primeiro conselho: Não paute sua vida, nem sua carreira, pelo dinheiro.
Ame seu ofício com todo o coração. Persiga fazer o melhor.
Seja fascinado pelo realizar, que o dinheiro virá como conseqüência.
Quem pensa só em dinheiro não consegue sequer ser nem um grande bandido, nem um grande canalha. Napoleão não invadiu a Europa por dinheiro. Hitler não matou 6 milhões de judeus por dinheiro. Michelangelo não passou 16 anos pintando a Capela Sistina por dinheiro. E, geralmente, os que só pensam nele não o ganham, porque são incapazes de sonhar. E tudo que fica pronto na vida foi construído antes, na alma.
A propósito disso, lembro-me de uma passagem extraordinária, que descreve o diálogo entre uma freira americana cuidando de leprosos no Pacífico e um milionário texano. O milionário, vendo-a tratar daqueles leprosos, disse:
- 'Freira, eu não faria isso por dinheiro nenhum no mundo.'
E ela respondeu:
-'Eu também não faço, meu filho.'
Não estou fazendo com isso nenhuma apologia à pobreza, muito pelo contrário. Digo apenas que pensar e realizar tem trazido mais fortuna do que pensar em fortuna.
Meu segundo conselho : Pense no seu País.
Porque, principalmente hoje, pensar em todos é a melhor maneira de pensar em si. Afinal, é difícil viver numa nação onde a maioria morre de fome e a minoria morre de medo. O caos político gera uma queda de padrão de vida generalizada. Os pobres vivem como bichos, e uma elite brega, sem cultura e sem refinamento, não chega a viver como homens. Roubam, mas vivem uma vida digna de Odorico Paraguaçu..
Meu terceiro conselho vem diretamente da Bíblia: 'Seja quente ou seja frio, não seja morno que eu te vomito'.
É exatamente isso que está escrito na carta de Laudiceia: Seja quente ou seja frio, não seja morno que eu te vomito, ou seja, é preferível o erro à omissão, o fracasso ao tédio, o escândalo ao vazio. Porque já vi grandes livros e filmes sobre a tristeza, a tragédia, o fracasso. Mas ninguém narra o ócio, a acomodação, o não fazer, o remanso.
Colabore com seu biógrafo. Faça, erre, tente, falhe, lute.
Mas, por favor, não jogue fora, se acomodando, a extraordinária oportunidade de ter vivido, tendo consciência de que cada homem foi feito para fazer história. Que todo homem é um milagre e traz em si uma revolução. Que é mais do que sexo ou dinheiro.. Você foi criado para construir pirâmides e versos, descobrir continentes e mundos, e caminhar, sempre, com um saco de interrogações na mão e uma caixa de possibilidades na outra.
Não use Rider, não dê férias a seus pés. Não se sente e passe a ser analista da vida alheia, espectador do mundo, comentarista do cotidiano, dessas pessoas que vivem a dizer: 'eu não disse!', 'eu sabia!'.
Toda família tem um tio batalhador e bem de vida. E, durante o almoço de domingo, tem que agüentar aquele outro tio muito inteligente e fracassado contar tudo que ele faria, se fizesse alguma coisa.
Chega dos poetas não publicados. Empresários de mesa de bar. Pessoas que fazem coisas fantásticas toda sexta de noite, todo sábado e domingo, mas que na segunda não sabem concretizar o que falam. Porque não sabem ansiar, não sabem perder a pose, porque não sabem recomeçar. Porque não sabem trabalhar.
Eu digo: trabalhem, trabalhem, trabalhem. De 8 as 12, de 12 as 8 e mais se for preciso. Trabalho não mata.. Ocupa o tempo. Evita o ócio (que é a morada do demônio) e constrói prodígios.
O Brasil, este país de malandros e espertos, da vantagem em tudo, tem muito que aprender com aqueles trouxas dos japoneses. Porque aqueles trouxas japoneses, que trabalham de sol a sol, construíram, em menos de 50 anos, a 2ª maior megapotência do planeta. Enquanto nós; os espertos; construímos uma das maiores impotências do trabalho.
Trabalhe! Muitos de seus colegas dirão que você está perdendo sua vida, porque você vai trabalhar enquanto eles veraneiam. Porque você vai trabalhar, enquanto eles vão ao mesmo bar da semana anterior, conversar as mesmas conversas, mas o tempo (que é mesmo o senhor da razão) vai bendizer o fruto do seu esforço, e só o trabalho lhe leva a conhecer pessoas e mundos que os acomodados não conhecerão. E isso se chama SUCESSO.'
Nizan Guanaes
(P.S.: Prezados, não consegui verificar a autoria. Beijos, Edna).
sábado, 22 de março de 2008
Amor pela palavra
"Se nós somos invenção de nós mesmos, a língua é o instrumento fundamental dessa invenção. Eu sou, evidentemente, minha cara, minha perna, meu osso, mas isso só é de fato se se traduz
em linguagem. Em música, em pintura? Não basta: nessas linguagens sou quase eu mas ainda sou outro. Não é que basta expressar-me em palavras para que seja eu de fato mas, nas palavras, melhor me decifro e quase me entendo. Sem a língua portuguesa, minha fala, não me traduzo a ponto de me reconhecer. Sou mais próximo de mim e dos outros na língua que falo".
Ferreira Gullar
Publicado no suplemento especial d'O Globo, A Língua da União, em 21 de março de 2008.
sexta-feira, 21 de março de 2008
Naquele dia saí de mim.
Ah, como estava cansada de ser eu!
Ia seguindo, dia a dia, sempre a mesma: as mesmas mazelas, as mesmas queixas, as mesmas lamentações. Gente, que enfadonho! Jamais alguém olhou tanto para o próprio umbigo, garanto.
Até que aconteceu o inesperado. Deixei-me surpreender por mim.
Foi assim: surgindo cinco dias de férias em agosto de 2006 e não tendo planos, resolvi que iria todos os dias à praia, caminhando sempre o mais que pudesse, e foi o fiz.
No primeiro dia, desci do metrô logo na estação Arco Verde e caminhei pelo calçadão da praia até o arpoador. Chegando lá, voltei lentamente pelo mesmo caminho, já perscrutando um lugar na areia para ficar. Um rapaz de uma das tantas tendas me sorriu e convidou a descer. Aceitei, pois era próximo à estátua em homenagem a Drumonnd, e seria interessante observar o comportamento das pessoas em relação ao monumento.
Durante quatro dias tudo aconteceu exatamente igual: caminhava até o Arpoador, voltava e sentava na barraca de sempre, pedindo a água de coco de sempre e lendo o livro de sempre, não dando nenhuma chance ao destino para mudar coisa alguma.
Até que, no quinto e último dia, resolvi, em lugar de ler, observar o que se passava a meu redor. Percebi o rapaz da barraca atento aos meus movimentos; pensando bem, durante todos aqueles dias, sempre que levantava os olhos do livro para pedir algo, lá estava ele atento às minhas vontades. E quando eu passava chegando, ele não acenava sempre? E quando eu voltava para finalmente sentar, ele não acudia armando a cadeira de praia no lugar costumeiro?
Seguindo um impulso, pois nunca bebo sozinha, pedi uma cerveja. Como sempre, ele atendeu rapidamente. Aproveitou, então, para me perguntar se não queria ser refrescada pela água que ele buscaria no mar com seu regador. Achei interessante, pois a idéia de entrar nas águas de Copacabana não me atraía nem um pouco. Freqüentei a praia todos aqueles dias sem nunca entrar no mar. Para mim, água tem que parecer limpa, e aquela, em nenhum dia, o parecera.
Aceitei o banho dado por ele e voltei a sentar, mas ele não se foi. Ao contrário, agachou-se ali na areia entre seu regador e minha cadeira e pôs-se a conversar.
Uma conversa banal, algo para passar o tempo, sem grandes pretensões. Tudo parecia que transcorreria assim, assim, até o papo morrer em banalidades como muitas vezes acontece. Mas não foi o que aconteceu, pelo menos não para mim, pois tudo mudou quando ele disse ter certeza de eu não ser carioca. Intrigada, disse que ele havia acertado, porém gostaria de saber o que me havia denunciado. Ele disse que sou muito calma, falo muito devagar, mas, sobretudo, uso muita roupa. As cariocas vão à praia quase que com a roupa já de banho. Enquanto eu, em meus grandes e largos vestidos majestosamente rústicos, parecia uma rainha desfilando no calçadão de Copacabana. Ele me via de longe e não cansava de admirar.
Informei que sou de Minas Gerais, e ele, num equívoco, achou que eu estivesse no Rio de férias. E foi quando aconteceu: deixei que ele assim pensasse. Gente, que sensação interessante!
Incentivei-o a falar, e ele compôs minha personagem. Pronto! Lá estava eu, entretanto não era eu. Estava surgindo ali uma edna novinha em folha, segundo as impressões daquele rapaz, e isso era libertador. Que delícia ser uma mineirinha de férias no Rio de Janeiro, ouvindo-o falar das maravilhas da Cidade e dos pontos turísticos imperdíveis.
Pedi que descrevesse cada uma das atrações do Rio, e tudo se tornou absolutamente novo aos meus olhos, pois via através dos olhos dele. Com que encantamento eu prestava atenção e admirava tudo o que ele dizia! Juro que me sentia a mineira recém-chegada à Cidade que ele julgava que eu fosse.
Foram as duas cervejas mais demoradas que já tomei. Ele é do Nordeste, porém já está no Rio há anos – como eu, aliás – e falou de tudo que já viu com um orgulho tão grande, com uma admiração tão imensa por esta Cidade!
Como foi bom deixar de ser eu por umas poucas horas...
Despedi-me prometendo voltar no dia seguinte, como voltara nos dias anteriores. Entretanto, não fui eu quem prometeu, mas aquela outra edna, pois o dia seguinte seria sábado e não vou à Copacabana no final de semana. Aliás, não vou à Praia de Copacabana durante o dia nunca, pois prefiro a Barra da Tijuca. Copacabana, só à noite para caminhar no calçadão entre aquela saudável miríade de gente. Faz tão bem ser apenas mais um em meio aquele povo exótico. Não há padrão de comportamento, nem de roupa, nem de nada. Pode-se ser qualquer coisa e tudo, sem se importar com o olhar alheio. É muito interessante.
Aquela ociosa semana de agosto foi uma exceção que me salvou de mim.
Ah, como estava cansada de ser eu!
Ia seguindo, dia a dia, sempre a mesma: as mesmas mazelas, as mesmas queixas, as mesmas lamentações. Gente, que enfadonho! Jamais alguém olhou tanto para o próprio umbigo, garanto.
Até que aconteceu o inesperado. Deixei-me surpreender por mim.
Foi assim: surgindo cinco dias de férias em agosto de 2006 e não tendo planos, resolvi que iria todos os dias à praia, caminhando sempre o mais que pudesse, e foi o fiz.
No primeiro dia, desci do metrô logo na estação Arco Verde e caminhei pelo calçadão da praia até o arpoador. Chegando lá, voltei lentamente pelo mesmo caminho, já perscrutando um lugar na areia para ficar. Um rapaz de uma das tantas tendas me sorriu e convidou a descer. Aceitei, pois era próximo à estátua em homenagem a Drumonnd, e seria interessante observar o comportamento das pessoas em relação ao monumento.
Durante quatro dias tudo aconteceu exatamente igual: caminhava até o Arpoador, voltava e sentava na barraca de sempre, pedindo a água de coco de sempre e lendo o livro de sempre, não dando nenhuma chance ao destino para mudar coisa alguma.
Até que, no quinto e último dia, resolvi, em lugar de ler, observar o que se passava a meu redor. Percebi o rapaz da barraca atento aos meus movimentos; pensando bem, durante todos aqueles dias, sempre que levantava os olhos do livro para pedir algo, lá estava ele atento às minhas vontades. E quando eu passava chegando, ele não acenava sempre? E quando eu voltava para finalmente sentar, ele não acudia armando a cadeira de praia no lugar costumeiro?
Seguindo um impulso, pois nunca bebo sozinha, pedi uma cerveja. Como sempre, ele atendeu rapidamente. Aproveitou, então, para me perguntar se não queria ser refrescada pela água que ele buscaria no mar com seu regador. Achei interessante, pois a idéia de entrar nas águas de Copacabana não me atraía nem um pouco. Freqüentei a praia todos aqueles dias sem nunca entrar no mar. Para mim, água tem que parecer limpa, e aquela, em nenhum dia, o parecera.
Aceitei o banho dado por ele e voltei a sentar, mas ele não se foi. Ao contrário, agachou-se ali na areia entre seu regador e minha cadeira e pôs-se a conversar.
Uma conversa banal, algo para passar o tempo, sem grandes pretensões. Tudo parecia que transcorreria assim, assim, até o papo morrer em banalidades como muitas vezes acontece. Mas não foi o que aconteceu, pelo menos não para mim, pois tudo mudou quando ele disse ter certeza de eu não ser carioca. Intrigada, disse que ele havia acertado, porém gostaria de saber o que me havia denunciado. Ele disse que sou muito calma, falo muito devagar, mas, sobretudo, uso muita roupa. As cariocas vão à praia quase que com a roupa já de banho. Enquanto eu, em meus grandes e largos vestidos majestosamente rústicos, parecia uma rainha desfilando no calçadão de Copacabana. Ele me via de longe e não cansava de admirar.
Informei que sou de Minas Gerais, e ele, num equívoco, achou que eu estivesse no Rio de férias. E foi quando aconteceu: deixei que ele assim pensasse. Gente, que sensação interessante!
Incentivei-o a falar, e ele compôs minha personagem. Pronto! Lá estava eu, entretanto não era eu. Estava surgindo ali uma edna novinha em folha, segundo as impressões daquele rapaz, e isso era libertador. Que delícia ser uma mineirinha de férias no Rio de Janeiro, ouvindo-o falar das maravilhas da Cidade e dos pontos turísticos imperdíveis.
Pedi que descrevesse cada uma das atrações do Rio, e tudo se tornou absolutamente novo aos meus olhos, pois via através dos olhos dele. Com que encantamento eu prestava atenção e admirava tudo o que ele dizia! Juro que me sentia a mineira recém-chegada à Cidade que ele julgava que eu fosse.
Foram as duas cervejas mais demoradas que já tomei. Ele é do Nordeste, porém já está no Rio há anos – como eu, aliás – e falou de tudo que já viu com um orgulho tão grande, com uma admiração tão imensa por esta Cidade!
Como foi bom deixar de ser eu por umas poucas horas...
Despedi-me prometendo voltar no dia seguinte, como voltara nos dias anteriores. Entretanto, não fui eu quem prometeu, mas aquela outra edna, pois o dia seguinte seria sábado e não vou à Copacabana no final de semana. Aliás, não vou à Praia de Copacabana durante o dia nunca, pois prefiro a Barra da Tijuca. Copacabana, só à noite para caminhar no calçadão entre aquela saudável miríade de gente. Faz tão bem ser apenas mais um em meio aquele povo exótico. Não há padrão de comportamento, nem de roupa, nem de nada. Pode-se ser qualquer coisa e tudo, sem se importar com o olhar alheio. É muito interessante.
Aquela ociosa semana de agosto foi uma exceção que me salvou de mim.
segunda-feira, 17 de março de 2008
A palavra
... Sim Senhor, tudo o que queira, mas são as palavras as que cantam, as que sobem e baixam ... Prosterno-me diante delas... Amo-as, uno-me a elas, persigo-as, mordo-as, derreto-as ... Amo tanto as palavras ... As inesperadas ... As que avidamente a gente espera, espreita até que de repente caem ... Vocábulos amados ... Brilham como pedras coloridas, saltam como peixes de prata, são espuma, fio, metal, orvalho ... Persigo algumas palavras ... São tão belas que quero colocá-las todas em meu poema ... Agarro-as no vôo, quando vão zumbindo, e capturo-as, limpo-as, aparo-as, preparo-me diante do prato, sinto-as cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetais, oleosas, como frutas, como algas, como ágatas, como azeitonas ... E então as revolvo, agito-as, bebo-as, sugo-as, trituro-as, adorno-as, liberto-as ... Deixo-as como estalactites em meu poema; como pedacinhos de madeira polida, como carvão, como restos de naufrágio, presentes da onda ... Tudo está na palavra ... Uma idéia inteira muda porque uma palavra mudou de lugar ou porque outra se sentou como uma rainha dentro de uma frase que não a esperava e que a obedeceu ... Têm sombra, transparência, peso, plumas, pêlos, têm tudo o que ,se lhes foi agregando de tanto vagar pelo rio, de tanto transmigrar de pátria, de tanto ser raízes ... São antiqüíssimas e recentíssimas. Vivem no féretro escondido e na flor apenas desabrochada ... Que bom idioma o meu, que boa língua herdamos dos conquistadores torvos ... Estes andavam a passos largos pelas tremendas cordilheiras, pelas .Américas encrespadas, buscando batatas, butifarras*, feijõezinhos, tabaco negro, ouro, milho, ovos fritos, com aquele apetite voraz que nunca. mais,se viu no mundo ... Tragavam tudo: religiões, pirâmides, tribos, idolatrias iguais às que eles traziam em suas grandes bolsas... Por onde passavam a terra ficava arrasada... Mas caíam das botas dos bárbaros, das barbas, dos elmos, das ferraduras. Como pedrinhas, as palavras luminosas que permaneceram aqui resplandecentes... o idioma. Saímos perdendo... Saímos ganhando... Levaram o ouro e nos deixaram o ouro... Levaram tudo e nos deixaram tudo... Deixaram-nos as palavras.
Pablo Neruda
*Butifarra: espécie de chouriço ou lingüiça feita principalmente na Catalunha, Valência e Baleares. (N. da T.)
sexta-feira, 14 de março de 2008
TRINTA DICAS PARA ESCREVER BEM
1. Deve evitar ao máx. a utiliz. de abrev., etc.
2. É desnecessário fazer-se empregar de um estilo de escrita demasiadamente rebuscado. Tal prática advém de esmero excessivo que raia o exibicionismo narcisístico.
3. Anule aliterações altamente abusivas.
4. não esqueça as maiúsculas no início das frases.
5. Evite lugares-comuns como o diabo foge da cruz.
6. O uso de parênteses (mesmo quando for relevante) é desnecessário.
7. Estrangeirismos estão out; palavras de origem portuguesa estão in.
8. Evite o emprego de gíria, mesmo que pareça nice, sacou??... então
9.Palavras de baixo calão, porra, podem transformar o seu texto numa merda.
10. Nunca generalize: generalizar é um erro em todas as situações.
11. Evite repetir a mesma palavra pois essa palavra vai ficar uma palavra repetitiva. A repetição da palavra vai fazer com que a palavra repetida desqualifique o texto onde a palavra se encontra repetida.
12. Não abuse das citações. Como costuma dizer um amigo meu: "Quem cita os outros não tem idéias próprias".
13. Frases incompletas podem causar
14. Não seja redundante, não é preciso dizer a mesma coisa de formas diferentes; isto é, basta mencionar cada argumento uma só vez, ou por outras palavras, não repita a mesma idéia várias vezes.
15. Seja mais ou menos específico.
16. Frases com apenas uma palavra? Jamais!
17. A voz passiva deve ser evitada.
18. Utilize a pontuação corretamente o ponto e a vírgula pois a frase poderá ficar sem sentido especialmente será que ninguém mais sabe utilizar o ponto de interrogação
19. Quem precisa de perguntas retóricas?
20. Conforme recomenda a A.G.O.P, nunca use siglas desconhecidas.
21 Exagerar é cem milhões de vezes pior do que a moderação.
22. Evite mesóclises. Repita comigo: "mesóclises: evitá-Ias-ei!"
23. Analogias na escrita são tão úteis quanto chifres numa galinha.
24. Não abuse das exclamações! Nunca!!! O seu texto fica horrível!!!!!
25. Evite frases exageradamente longas pois estas dificultam a compreensão da idéia nelas contida e, por conterem mais que uma idéia central, o que nem sempre torna o seu conteúdo acessível, forçam, desta forma, o pobre leitor a separá-Ia nos seus diversos componentes de forma a torná-Ias compreensíveis, o que não deveria ser, afinal de contas, parte do processo da leitura, hábito que devemos estimular através do uso de frases mais curtas.
26. Cuidado com a hortografia, para não estrupar a língúa portuguêza.
27. Seja incisivo e coerente, ou não.
28. Não fique escrevendo (nem falando) no gerúndio. Você vai estar deixando seu texto pobre e estar causando ambigüidade, com certeza você vai estar deixando o conteúdo esquisito, vai estar ficando com a sensação de que as coisas ainda estão acontecendo. E como você vai estar lendo este texto, tenho certeza que você vai estar prestando atenção e vai estar repassando aos seus amigos, que vão estar entendendo e vão estar pensando em não estar falando desta maneira irritante.
29. Outra barbaridade que tu deves evitar tchê, é usar muitas expressões que acabem por denunciar a região onde tu moras, !... nada de mandar esse trem... vixi... entendeu bichinho?
30. Não permita que seu texto acabe por rimar, porque senão ninguém irá agüentar já que é insuportável o mesmo final escutar, o tempo todo sem parar.
Prof. João Pedro - Unicamp
2. É desnecessário fazer-se empregar de um estilo de escrita demasiadamente rebuscado. Tal prática advém de esmero excessivo que raia o exibicionismo narcisístico.
3. Anule aliterações altamente abusivas.
4. não esqueça as maiúsculas no início das frases.
5. Evite lugares-comuns como o diabo foge da cruz.
6. O uso de parênteses (mesmo quando for relevante) é desnecessário.
7. Estrangeirismos estão out; palavras de origem portuguesa estão in.
8. Evite o emprego de gíria, mesmo que pareça nice, sacou??... então
9.Palavras de baixo calão, porra, podem transformar o seu texto numa merda.
10. Nunca generalize: generalizar é um erro em todas as situações.
11. Evite repetir a mesma palavra pois essa palavra vai ficar uma palavra repetitiva. A repetição da palavra vai fazer com que a palavra repetida desqualifique o texto onde a palavra se encontra repetida.
12. Não abuse das citações. Como costuma dizer um amigo meu: "Quem cita os outros não tem idéias próprias".
13. Frases incompletas podem causar
14. Não seja redundante, não é preciso dizer a mesma coisa de formas diferentes; isto é, basta mencionar cada argumento uma só vez, ou por outras palavras, não repita a mesma idéia várias vezes.
15. Seja mais ou menos específico.
16. Frases com apenas uma palavra? Jamais!
17. A voz passiva deve ser evitada.
18. Utilize a pontuação corretamente o ponto e a vírgula pois a frase poderá ficar sem sentido especialmente será que ninguém mais sabe utilizar o ponto de interrogação
19. Quem precisa de perguntas retóricas?
20. Conforme recomenda a A.G.O.P, nunca use siglas desconhecidas.
21 Exagerar é cem milhões de vezes pior do que a moderação.
22. Evite mesóclises. Repita comigo: "mesóclises: evitá-Ias-ei!"
23. Analogias na escrita são tão úteis quanto chifres numa galinha.
24. Não abuse das exclamações! Nunca!!! O seu texto fica horrível!!!!!
25. Evite frases exageradamente longas pois estas dificultam a compreensão da idéia nelas contida e, por conterem mais que uma idéia central, o que nem sempre torna o seu conteúdo acessível, forçam, desta forma, o pobre leitor a separá-Ia nos seus diversos componentes de forma a torná-Ias compreensíveis, o que não deveria ser, afinal de contas, parte do processo da leitura, hábito que devemos estimular através do uso de frases mais curtas.
26. Cuidado com a hortografia, para não estrupar a língúa portuguêza.
27. Seja incisivo e coerente, ou não.
28. Não fique escrevendo (nem falando) no gerúndio. Você vai estar deixando seu texto pobre e estar causando ambigüidade, com certeza você vai estar deixando o conteúdo esquisito, vai estar ficando com a sensação de que as coisas ainda estão acontecendo. E como você vai estar lendo este texto, tenho certeza que você vai estar prestando atenção e vai estar repassando aos seus amigos, que vão estar entendendo e vão estar pensando em não estar falando desta maneira irritante.
29. Outra barbaridade que tu deves evitar tchê, é usar muitas expressões que acabem por denunciar a região onde tu moras, !... nada de mandar esse trem... vixi... entendeu bichinho?
30. Não permita que seu texto acabe por rimar, porque senão ninguém irá agüentar já que é insuportável o mesmo final escutar, o tempo todo sem parar.
Prof. João Pedro - Unicamp
Sísifo
Recomeça...
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
vai colhendo
ilusões sucessivas no pomar.
sempre a sonhar
E vendo,
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.
(M.Torga)
quinta-feira, 13 de março de 2008
Guimarães Rosa e o Magma
O poeta não cita: canta. Não se traça programas, porque a sua estrada não tem marcos nem destino. Se repete, são idéias e imagens que volvem à tona por poder próprio, pois que entre elas há também uma sobrevivência do mais apto . Não se aliena, como um lunático, das agitações coletivas e contemporâneas, porque arte e vida são planos não superpostos mas interpenetrados, com o ar entranhado nas massas de água, indispensável ao peixe—neste caso ao homem, que vive a vida e que respira arte. Mas tal contribuição para o meio humano será a de um órgão para um organismo: instintiva, sem a consciência de uma intenção, automática, discreta e subterrânea.
Com um fosso fundo ao redor de sua turris ebúrnea, deixa a outros o trabalho de verificarem de quem recebeu informações ou influências e a quem poderá ou não influenciar.
E o incontentamento é o seu clima, porque o artista não passa de um místico retardado, sempre a meia jornada. Falta-lhe o repouso do sétimo dia. Não tem o direito de se voltar para o já-feito, ainda que mais nada tenha por fazer.
A satisfação proporcionada pela obra de arte àquele que a revela é dolorosamente efêmera: relampeja, fugaz, nos momentos de febre inspiradora, quando ele tateia formas novas para exteriorização do seu magma íntimo, do seu mundo interior. Uma tortura crescente, o intervalo de um rapto e um quase arrependimento. Pinta a sua tela, cega-se para ela e passa adiante. Se a surdes de Beethoven tivesse lhe trazido a infecundidade, seria um símbolo. Obra escrita—obra já lida---obra repudiada: trabalhar em comeias opacas e largar o enxame ao seu destino, mera ventura de brisas e de asas.Tudo isto aqui vem tão somente para exaltar a importância que reconheço ao estimulo que me outorgastes. Grande, inesquecível incentivo. O Magma, aqui dentro, reagiu, tomou vida própria, individualizou-se, libertou-se do seu desamor e se fez criatura autônoma, com quem talvez eu já não esteja muito de acordo, mas a quem a vossa consagração me força a respeitar. Sou-lhe grato, principalmente, pelo privilégio que me obteve de poder --- sem demasiadas ilusões, mas reverente--- levantar a voz neste recinto, como um menino que depõe o seu brinquedo na superfície translúcida de uma água, para a qual a serenidade não é a estagnação, e cujo brilho da face viva nada rouba à projeção poderosa da profundidade.(...)
Dircurso proferido por Guimarães Rosa em agradecimento ao prêmio concedido pela Academia Brasileira de Letras, ao livro de poesia Magma.
quarta-feira, 12 de março de 2008
Homenagem A Ricardo Reis
Não creias, Lídia, que nenhum estio
Por nós perdido possa regressar
Oferecendo a flor
Que adiámos colher.
Cada dia te é dado uma só vez
E no redondo círculo da noite
Não existe piedade
Para aquele que hesita.
Mais tarde será tarde e já é tarde.
O tempo apaga tudo menos esse
Longo indelével rasto
Que o não-vivido deixa.
Não creias na demora em que te medes.
Jamais se detém Kronos cujo passo
Vai sempre mais à frente
Do que o teu próprio passo.
Sophia de Mello Breyner (1919-2004)
Por nós perdido possa regressar
Oferecendo a flor
Que adiámos colher.
Cada dia te é dado uma só vez
E no redondo círculo da noite
Não existe piedade
Para aquele que hesita.
Mais tarde será tarde e já é tarde.
O tempo apaga tudo menos esse
Longo indelével rasto
Que o não-vivido deixa.
Não creias na demora em que te medes.
Jamais se detém Kronos cujo passo
Vai sempre mais à frente
Do que o teu próprio passo.
Sophia de Mello Breyner (1919-2004)
A VIAGEM DEFINITIVA
Ir-me-ei embora. E ficarão os pássaros
Cantando.
E ficará o meu jardim com sua árvore verde
E o seu poço branco.
Todas as tardes o céu será azul e plácido,
E tocarão, como esta tarde estão tocando,
Os sinos do companário.
Morrerão os que me amaram
E a aldeia se renovará todos os anos.
E longe do bulício distinto, surdo, raro
Do domingo acabado,
Da diligência das cinco, das sestas do banho,
No recanto secreto do meu jardim florido e caiado
Meu espírito de hoje errará nostálgico...
E ir-me-ei embora, e serei outro, sem lar, sem árvore
Verde, sem poço branco,
Sem céu azul e plácido...
E os pássaros ficarão cantando.
JUAN RAMÓN JIMÉNEZ (1881 – 1958)
(Prémio Nobel da Literatura 1965)
Tradução: Manuel Bandeira
Cantando.
E ficará o meu jardim com sua árvore verde
E o seu poço branco.
Todas as tardes o céu será azul e plácido,
E tocarão, como esta tarde estão tocando,
Os sinos do companário.
Morrerão os que me amaram
E a aldeia se renovará todos os anos.
E longe do bulício distinto, surdo, raro
Do domingo acabado,
Da diligência das cinco, das sestas do banho,
No recanto secreto do meu jardim florido e caiado
Meu espírito de hoje errará nostálgico...
E ir-me-ei embora, e serei outro, sem lar, sem árvore
Verde, sem poço branco,
Sem céu azul e plácido...
E os pássaros ficarão cantando.
JUAN RAMÓN JIMÉNEZ (1881 – 1958)
(Prémio Nobel da Literatura 1965)
Tradução: Manuel Bandeira
terça-feira, 11 de março de 2008
Cilada Verbal
segunda-feira, 10 de março de 2008
Às mulheres deste canto da minha vida
Cantarei o barro, porque nele esteve a vida
e este sangue que ferve em nosso corpo.
Meus olhos de barro pressentem o repouso
e o clarão imortal de uma outra vida.
Cantarei o barro porque foi amassada
a nossa carne do barro inconsistente
e na argila curtida e inanimada
o sopro de Deus entrou como a semente.
Poema: Marià Manent (1898-1988)
e este sangue que ferve em nosso corpo.
Meus olhos de barro pressentem o repouso
e o clarão imortal de uma outra vida.
Cantarei o barro porque foi amassada
a nossa carne do barro inconsistente
e na argila curtida e inanimada
o sopro de Deus entrou como a semente.
Poema: Marià Manent (1898-1988)
"Quando escrevo, repito o que já vivi antes. E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente. Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser um crocodilo porque amo os grandes rios, pois são profundos como a alma de um homem. Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranqüilos e escuros como o sofrimento dos homens."
Guimarães Rosa
Simples
terça-feira, 19 de fevereiro de 2008
ALGO QUE, POR MILÊNIOS, CONTINUA A NOS INFLUENCIAR?
Estou me sentindo esquisita. Meio assombrada. Arrepios percorrem meu corpo.
Há pouco choveu. Foi uma daquelas tempestades de verão, quando o dia escurece de repente, o céu fica carregado de eletricidade e os raios chicoteiam o ar como que empunhados por deuses furiosos.
Choveu muito e forte. Mas a fúria em forma de pingos grossos e fustigantes passou rapidamente, deixando em tudo uma estranha aparência fantasmagórica. Era o fim do dia, mas ainda não era o início da noite, e o céu estava coberto por nuvens negras que deixavam cair uma chuva fina; porém havia claros em alguns pontos, o que permitia ver ora uma parca luminosidade solar, ora uma nesga azulada. Tal composição resultou hipnoticamente atraente; saí para ver melhor.
E foi quando senti o arrepio, pois lá estava a lua em meio ao furor que ainda pairava, como que suspenso, ameaçando o ar. Estranhamente ela ganhara um quê de sobrenatural. Esse sentimento parecia incongruente, uma vez que a lua sempre me trouxera sensações boas. Ah, mas, dessa vez, ela estava assustadora.
Talvez o que amedronte seja a combinação inusitada... Sol mais chuva é comum e acho lindo; pois empresta a tudo uma atmosfera festiva, luminosa, encantada. Faz lembrar infância. Quando criança, acontecia, menos do que gostaríamos, de nos deixarem tomar banho de chuva de verão, e, então, o sol saía para brincar conosco e nos presentear, quando tínhamos sorte, com um arco-íris. Deus, como era gostoso! O cheiro, os pingos grossos e cálidos, o cheiro, a luz dourada e alaranjada, o cheiro, o vento doce e morno, o cheiro, o sol terno e fugidio, o cheiro...
Lua e chuva, porém, foi a primeira vez que vi e não gostei.
Quem mais terá visto e o que terá sentido, então? Já li, umas tantas vezes, sobre sol e chuva simultâneos; entretanto nada sobre lua e chuva. Gostaria de saber o que pensou e sentiu quem, porventura, contemplou o mesmo cenário que eu...
A solidão impõe um ônus, por vezes, insuportável!
Engoli o choro tentando desfazer o nó da garganta e espantar o tremor. Recorri ao telefone: precisava compartilhar o que estava vendo; saber o que sentiam; ouvir que estava tudo bem... Não encontrei ninguém, e a solidão tornou-se quase sólida a me cortar o coração assombrado.
Também, quem eu esperava encontrar, num domingo à noite, interessado em minhas impressões sobre a chuva, a lua e os raios? Francamente...!
Há pouco choveu. Foi uma daquelas tempestades de verão, quando o dia escurece de repente, o céu fica carregado de eletricidade e os raios chicoteiam o ar como que empunhados por deuses furiosos.
Choveu muito e forte. Mas a fúria em forma de pingos grossos e fustigantes passou rapidamente, deixando em tudo uma estranha aparência fantasmagórica. Era o fim do dia, mas ainda não era o início da noite, e o céu estava coberto por nuvens negras que deixavam cair uma chuva fina; porém havia claros em alguns pontos, o que permitia ver ora uma parca luminosidade solar, ora uma nesga azulada. Tal composição resultou hipnoticamente atraente; saí para ver melhor.
E foi quando senti o arrepio, pois lá estava a lua em meio ao furor que ainda pairava, como que suspenso, ameaçando o ar. Estranhamente ela ganhara um quê de sobrenatural. Esse sentimento parecia incongruente, uma vez que a lua sempre me trouxera sensações boas. Ah, mas, dessa vez, ela estava assustadora.
Talvez o que amedronte seja a combinação inusitada... Sol mais chuva é comum e acho lindo; pois empresta a tudo uma atmosfera festiva, luminosa, encantada. Faz lembrar infância. Quando criança, acontecia, menos do que gostaríamos, de nos deixarem tomar banho de chuva de verão, e, então, o sol saía para brincar conosco e nos presentear, quando tínhamos sorte, com um arco-íris. Deus, como era gostoso! O cheiro, os pingos grossos e cálidos, o cheiro, a luz dourada e alaranjada, o cheiro, o vento doce e morno, o cheiro, o sol terno e fugidio, o cheiro...
Lua e chuva, porém, foi a primeira vez que vi e não gostei.
Quem mais terá visto e o que terá sentido, então? Já li, umas tantas vezes, sobre sol e chuva simultâneos; entretanto nada sobre lua e chuva. Gostaria de saber o que pensou e sentiu quem, porventura, contemplou o mesmo cenário que eu...
A solidão impõe um ônus, por vezes, insuportável!
Engoli o choro tentando desfazer o nó da garganta e espantar o tremor. Recorri ao telefone: precisava compartilhar o que estava vendo; saber o que sentiam; ouvir que estava tudo bem... Não encontrei ninguém, e a solidão tornou-se quase sólida a me cortar o coração assombrado.
Também, quem eu esperava encontrar, num domingo à noite, interessado em minhas impressões sobre a chuva, a lua e os raios? Francamente...!
sábado, 9 de fevereiro de 2008
O olhar
Observando a paisagem que olho todos os dias há quase quatro anos, noto, em meio às montanhas recobertas pela mata verdejante da Floresta da Tijuca, uma formação rochosa que emerge tão agressivamente quanto um espinho.
Curioso...
Naturalmente ela esteve lá durante todo esse tempo em que venho passeando meu olhar por aquelas encostas, vales, elevações, ondulações, protuberâncias: todos recobertos por incontáveis tons de verde, salpicados de branco e, às vezes, após a chuva, também prata.
Nunca havia reparado naquele espinho de pedra. É uma montanha parecendo feita de uma rocha só, que sai naturalmente em meio a todas as outras. Todas com sua cobertura natural de mata, e ela com sua cobertura natural de lâmina. Entretanto, tão perfeitamente integrada, que não causa estranheza.
Deixei de fazer o que estava fazendo – ou não fazendo, pois, desde quando máquina de lavar roupa precisa de alguém olhando enquanto faz o seu ofício? – e me dispus a pensar a respeito da razão pela qual aquela montanha aguda de pedra passou a eclipsar todas as outras; o motivo de, mesmo agora, sem olhá-la, a mesma não sair de minha retina...
É porque tenho, como o Parque Nacional da Tijuca, os meus espinhos. A esperança é que eles estejam tão bem integrados ao meu todo que passem despercebidos. Como aquela montanha, os meus não devem ser destaque, não devem ter papel importante, não devem aparecer.
Sei que já foi diferente e lamento. Perdi tanto tempo usando mais a elevação de espinho do que as de matas promissoras, que quase esqueci para que serviam as outras tantas montanhas que existiam em mim.
Foi preciso um longo e doloroso olhar na minha formação e no modo como a vinha utilizando. Deixar de ser o que se vinha sendo há tanto tempo é morrer... Morro um pouco dia a dia. Será que o caminho para o aprimoramento não é morrer um pouco até o fim? Pára-se de morrer até a morte? Ou quando se pára de morrer é porque está na hora do fim: alcançou-se a plenitude e chega-se à morte.
Quem já não ouviu: Fulano estava tão feliz; no auge da carreira, uma família maravilhosa, os sonhos realizados e, no entanto, morreu. Talvez não seja no entanto; talvez seja por isso.
Curioso...
Naturalmente ela esteve lá durante todo esse tempo em que venho passeando meu olhar por aquelas encostas, vales, elevações, ondulações, protuberâncias: todos recobertos por incontáveis tons de verde, salpicados de branco e, às vezes, após a chuva, também prata.
Nunca havia reparado naquele espinho de pedra. É uma montanha parecendo feita de uma rocha só, que sai naturalmente em meio a todas as outras. Todas com sua cobertura natural de mata, e ela com sua cobertura natural de lâmina. Entretanto, tão perfeitamente integrada, que não causa estranheza.
Deixei de fazer o que estava fazendo – ou não fazendo, pois, desde quando máquina de lavar roupa precisa de alguém olhando enquanto faz o seu ofício? – e me dispus a pensar a respeito da razão pela qual aquela montanha aguda de pedra passou a eclipsar todas as outras; o motivo de, mesmo agora, sem olhá-la, a mesma não sair de minha retina...
É porque tenho, como o Parque Nacional da Tijuca, os meus espinhos. A esperança é que eles estejam tão bem integrados ao meu todo que passem despercebidos. Como aquela montanha, os meus não devem ser destaque, não devem ter papel importante, não devem aparecer.
Sei que já foi diferente e lamento. Perdi tanto tempo usando mais a elevação de espinho do que as de matas promissoras, que quase esqueci para que serviam as outras tantas montanhas que existiam em mim.
Foi preciso um longo e doloroso olhar na minha formação e no modo como a vinha utilizando. Deixar de ser o que se vinha sendo há tanto tempo é morrer... Morro um pouco dia a dia. Será que o caminho para o aprimoramento não é morrer um pouco até o fim? Pára-se de morrer até a morte? Ou quando se pára de morrer é porque está na hora do fim: alcançou-se a plenitude e chega-se à morte.
Quem já não ouviu: Fulano estava tão feliz; no auge da carreira, uma família maravilhosa, os sonhos realizados e, no entanto, morreu. Talvez não seja no entanto; talvez seja por isso.
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
Um tecido, um texto
Se não fosse bem assim, nem sei o que seria de mim!
Afinal, já dizia meu avô:”Deus ajuda a quem cedo madruga!”
Eu poderia tecer uma manhã, que nunca seria tarde. Uma tarde que nunca seria noite. Uma noite que nunca fim daria.
Meus pés estariam descalços, minhas mãos calejadas, a fé desarranjada...
Mas nada me fez desistir!
Acreditei que o sofrimento não me destruiria; pelo contrário, me faria mais forte e persistente.
Coloquei meu sonho na bagagem, arrumei caminho onde não tinha passagem, abri portas que estavam fechadas.
Teci a minha própria história.
Provei que era capaz.
Vi cada manhã como um presente, se era sol; tecia um dia de alegria; se chovia, tecia um dia de aconchego.
Da minha dor, não restou amarguras.
Primeiro comecei tecendo fios mais serenos, sem medo de errar o entrelaçado, tudo não passava de uma brincadeira e, dessa brincadeira, a cada ponto fechado, a vida tomava formas e cores.
Hoje restou um tecido encarnado, encorpado, fazia parte do fechamento de mais uma etapa, cada retalho tinha seu significado.
Esse era o ponto de partida da minha tessitura – Tessitura do texto – Como pôde ter me dito tantas coisas... Fiz a leitura das rosas, sim, lembram o jardim de rosas vermelhas da minha avó. Quantos arranhões! Quantas rosas roubadas para a professora...
Muitas paixões despertadas!
Desenhei o fatal vestido vermelho, que usei para conquistar minha eterna paixão.
E assim eu sigo; a cada arremate, a certeza do que representa o despertar numa linda manhã de sol.
Afinal, já dizia meu avô:”Deus ajuda a quem cedo madruga!”
Eu poderia tecer uma manhã, que nunca seria tarde. Uma tarde que nunca seria noite. Uma noite que nunca fim daria.
Meus pés estariam descalços, minhas mãos calejadas, a fé desarranjada...
Mas nada me fez desistir!
Acreditei que o sofrimento não me destruiria; pelo contrário, me faria mais forte e persistente.
Coloquei meu sonho na bagagem, arrumei caminho onde não tinha passagem, abri portas que estavam fechadas.
Teci a minha própria história.
Provei que era capaz.
Vi cada manhã como um presente, se era sol; tecia um dia de alegria; se chovia, tecia um dia de aconchego.
Da minha dor, não restou amarguras.
Primeiro comecei tecendo fios mais serenos, sem medo de errar o entrelaçado, tudo não passava de uma brincadeira e, dessa brincadeira, a cada ponto fechado, a vida tomava formas e cores.
Hoje restou um tecido encarnado, encorpado, fazia parte do fechamento de mais uma etapa, cada retalho tinha seu significado.
Esse era o ponto de partida da minha tessitura – Tessitura do texto – Como pôde ter me dito tantas coisas... Fiz a leitura das rosas, sim, lembram o jardim de rosas vermelhas da minha avó. Quantos arranhões! Quantas rosas roubadas para a professora...
Muitas paixões despertadas!
Desenhei o fatal vestido vermelho, que usei para conquistar minha eterna paixão.
E assim eu sigo; a cada arremate, a certeza do que representa o despertar numa linda manhã de sol.
Patrícia da Silva
sexta-feira, 18 de janeiro de 2008
Na pausa não há música, mas a pausa ajuda a fazer a música.
Toda sexta-feira à noite começa o shabat para a tradição judaica. Shabat é o conceito que propõe descanso ao final do ciclo semanal de produção, inspirado no descanso divino, no sétimo dia da Criação.
Muito além de uma proposta trabalhista, entendemos a pausa como fundamental para a saúde de tudo o que é vivo. A noite é pausa, o inverno é pausa, mesmo a morte é pausa. Onde não há pausa, a vida lentamente se extingue.
Para um mundo no qual funcionar 24 horas por dia parece não ser suficiente, onde o meio ambiente e a terra imploram por uma folga, onde nós mesmos não suportamos mais a falta de tempo, descansar se torna uma necessidade do planeta.
Hoje, o tempo de 'pausa' é preenchido por diversão e alienação . Lazer não é feito de descanso, mas de ocupações 'para não nos ocuparmos'. A própria palavra entretenimento indica o desejo de não parar. E a incapacidade de parar é uma forma de depressão.
O mundo está deprimido e a indústria do entretenimento cresce nessas condições. Nossas cidades se parecem cada vez mais com a Disneylândia. Longas filas para aproveitar experiências pouco interativas. Fim de dia com gosto de vazio. Um divertido que não é nem bom nem ruim. Dia pronto para ser esquecido, não fossem as fotos e a memória de uma expectativa frustrada que ninguém revela para não dar o gostinho ao próximo.
Entramos no milênio num mundo que é um grande shopping. A Internet e a televisão não dormem. Não há mais insônia solitária; solitário é quem dorme. As bolsas do Ocidente e do Oriente se revezam fazendo do ganhar e perder, das informações e dos rumores, atividade incessante. A CNN inventou um tempo linear que só pode parar no fim.
Mas as paradas estão por toda a caminhada e por todo o processo. Sem acostamento, a vida parece fluir mais rápida e eficiente, mas ao custo fóbico de uma paisagem que passa. O futuro é tão rápido que se confunde com o presente. As montanhas estão com olheiras, os rios precisam de um bom banho, as cidades de uma cochilada, o mar de umas férias, o domingo de um feriado... Nossos namorados querem 'ficar', trocando o 'ser' pelo 'estar'.
Saímos da escravidão do século XIX para o leasing do século XXI - um dia seremos nossos?
Quem tem tempo não é sério, quem não tem tempo é importante. Nunca fizemos tanto e realizamos tão pouco. Nunca tantos fizeram tanto por tão poucos... Parar não é interromper. Muitas vezes continuar é que é uma interrupção. O dia de não trabalhar não é o dia de se distrair - literalmente, ficar desatento. É um dia de atenção, de ser atencioso consigo e com sua vida. A pergunta que as pessoas se fazem no descanso é 'o que vamos fazer hoje?' - já marcada pela ansiedade. E sonhamos com uma longevidade de 120 anos, quando não sabemos o que fazer numa tarde de Domingo. Quem ganha tempo, por definição, perde.
Quem mata tempo, fere-se mortalmente. É este o grande 'radical livre' que envelhece nossa alegria - o sonho de fazer do tempo uma mercadoria.
Em tempos de novo milênio, vamos resgatar coisas que são milenares. A pausa é que traz a surpresa e não o que vem depois. A pausa é que dá sentido à caminhada. A prática espiritual deste milênio será viver as pausas.
Não haverá maior sábio do que aquele que souber quando algo terminou e quando algo vai começar. Afinal, por que o Criador descansou? Talvez porque, mais difícil do que iniciar um processo do nada, seja dá-lo como concluído.
Texto do Rabino Nilton Bonder, da Congregação Judaica.
Muito além de uma proposta trabalhista, entendemos a pausa como fundamental para a saúde de tudo o que é vivo. A noite é pausa, o inverno é pausa, mesmo a morte é pausa. Onde não há pausa, a vida lentamente se extingue.
Para um mundo no qual funcionar 24 horas por dia parece não ser suficiente, onde o meio ambiente e a terra imploram por uma folga, onde nós mesmos não suportamos mais a falta de tempo, descansar se torna uma necessidade do planeta.
Hoje, o tempo de 'pausa' é preenchido por diversão e alienação . Lazer não é feito de descanso, mas de ocupações 'para não nos ocuparmos'. A própria palavra entretenimento indica o desejo de não parar. E a incapacidade de parar é uma forma de depressão.
O mundo está deprimido e a indústria do entretenimento cresce nessas condições. Nossas cidades se parecem cada vez mais com a Disneylândia. Longas filas para aproveitar experiências pouco interativas. Fim de dia com gosto de vazio. Um divertido que não é nem bom nem ruim. Dia pronto para ser esquecido, não fossem as fotos e a memória de uma expectativa frustrada que ninguém revela para não dar o gostinho ao próximo.
Entramos no milênio num mundo que é um grande shopping. A Internet e a televisão não dormem. Não há mais insônia solitária; solitário é quem dorme. As bolsas do Ocidente e do Oriente se revezam fazendo do ganhar e perder, das informações e dos rumores, atividade incessante. A CNN inventou um tempo linear que só pode parar no fim.
Mas as paradas estão por toda a caminhada e por todo o processo. Sem acostamento, a vida parece fluir mais rápida e eficiente, mas ao custo fóbico de uma paisagem que passa. O futuro é tão rápido que se confunde com o presente. As montanhas estão com olheiras, os rios precisam de um bom banho, as cidades de uma cochilada, o mar de umas férias, o domingo de um feriado... Nossos namorados querem 'ficar', trocando o 'ser' pelo 'estar'.
Saímos da escravidão do século XIX para o leasing do século XXI - um dia seremos nossos?
Quem tem tempo não é sério, quem não tem tempo é importante. Nunca fizemos tanto e realizamos tão pouco. Nunca tantos fizeram tanto por tão poucos... Parar não é interromper. Muitas vezes continuar é que é uma interrupção. O dia de não trabalhar não é o dia de se distrair - literalmente, ficar desatento. É um dia de atenção, de ser atencioso consigo e com sua vida. A pergunta que as pessoas se fazem no descanso é 'o que vamos fazer hoje?' - já marcada pela ansiedade. E sonhamos com uma longevidade de 120 anos, quando não sabemos o que fazer numa tarde de Domingo. Quem ganha tempo, por definição, perde.
Quem mata tempo, fere-se mortalmente. É este o grande 'radical livre' que envelhece nossa alegria - o sonho de fazer do tempo uma mercadoria.
Em tempos de novo milênio, vamos resgatar coisas que são milenares. A pausa é que traz a surpresa e não o que vem depois. A pausa é que dá sentido à caminhada. A prática espiritual deste milênio será viver as pausas.
Não haverá maior sábio do que aquele que souber quando algo terminou e quando algo vai começar. Afinal, por que o Criador descansou? Talvez porque, mais difícil do que iniciar um processo do nada, seja dá-lo como concluído.
Texto do Rabino Nilton Bonder, da Congregação Judaica.
Abdução
que arrasa minhas defesas
que arranca meu equilíbrio
que desfaz minha prumada?
De onde vem este poder
de me fazer provar do ouro e do lobo
de me fazer realizar coisas mais simples
de me fazer renascer a cada toque?
De onde vem esta mulher
que é tanto o que tanto quis
que escorre sonhos nas palavras
que faz dourada a luz de meu corpo e me ensina o valor das sombras?
Que viajante é esta
que me leva num segundo em estradas por quilômetros
sem nunca querer voltar?
Luiz Favilla
segunda-feira, 14 de janeiro de 2008
A FORÇA E A CORAGEM
É preciso ter força para ser firme, mas é preciso coragem para ser gentil.
É preciso ter força para se defender, mas é preciso coragem para baixar a guarda.
É preciso ter força para ganhar uma guerra, mas é preciso coragem para se render.
É preciso ter força para estar certo, mas é preciso coragem para ter dúvida.
É preciso ter força para manter-se em forma, mas é preciso coragem para ficar em pé.
É preciso ter força para sentir a dor de um amigo, mas é preciso coragem para sentir as próprias dores.
É preciso ter força para esconder os próprios males, mas é preciso coragem para demonstrá-los.
É preciso ter força para suportar o abuso, mas é preciso coragem para fazê-lo parar.
É preciso ter força para ficar sozinho, mas é preciso coragem para pedir apoio.
É preciso ter força para amar, mas é preciso coragem para ser amado.
É preciso ter força para sobreviver, mas é preciso coragem para viver.
Se você sente que lhe faltam a força e a coragem, queira Deus que o mundo possa abraçá-lo hoje com seu calor e Amor!
E que o vento possa levar-lhe uma voz que lhe diz que há um Amigo, em algum lugar do Mundo, desejando que você esteja bem e que, acima de tudo, seja muito feliz!!
Autora: Ivete Tayar
(Não verifiquei a autoria)
É preciso ter força para se defender, mas é preciso coragem para baixar a guarda.
É preciso ter força para ganhar uma guerra, mas é preciso coragem para se render.
É preciso ter força para estar certo, mas é preciso coragem para ter dúvida.
É preciso ter força para manter-se em forma, mas é preciso coragem para ficar em pé.
É preciso ter força para sentir a dor de um amigo, mas é preciso coragem para sentir as próprias dores.
É preciso ter força para esconder os próprios males, mas é preciso coragem para demonstrá-los.
É preciso ter força para suportar o abuso, mas é preciso coragem para fazê-lo parar.
É preciso ter força para ficar sozinho, mas é preciso coragem para pedir apoio.
É preciso ter força para amar, mas é preciso coragem para ser amado.
É preciso ter força para sobreviver, mas é preciso coragem para viver.
Se você sente que lhe faltam a força e a coragem, queira Deus que o mundo possa abraçá-lo hoje com seu calor e Amor!
E que o vento possa levar-lhe uma voz que lhe diz que há um Amigo, em algum lugar do Mundo, desejando que você esteja bem e que, acima de tudo, seja muito feliz!!
Autora: Ivete Tayar
(Não verifiquei a autoria)
domingo, 13 de janeiro de 2008
As coisas que o nosso cérebro faz!
As coisas que o nosso cérebro faz...!!!!
Se os seus olhos seguirem o movimento do ponto rotativo cor de rosa, só verá uma cor: rosa. Se o seu olhar se detiver na cruz negra do centro, o ponto rotativo muda para verde.
Agora, concentre-se na cruz do centro. Depois de um breve período de tempo, todos os pontos cor de rosa desaparecerão e só verá um único ponto verde girando. É impressionante como o nosso cérebro trabalha. Na realidade não há nenhum ponto verde, e os pontos cor de rosa não desaparecem. Isto deveria ser prova suficiente de que nem sempre vemos o que acreditamos ver... que perigo!
sábado, 12 de janeiro de 2008
As mãos
Chega um dia
em que a mão não se apercebe do limite da página
e sente que as sombras das letras que se escreve
saltam do papel.
Atrás dessas sombras,
passa então a escrever nos corpos espalhados pelo mundo,
num braço estendido,
nos restos de algo.
Mas chega outro dia,
em que a mão sente que todo o corpo devora
furtiva e precocemente
o obscuro alimento dos sinais.
Chegou para ela o momento
de escrever no próprio ar,
de conformr-se quase com o seu gesto.
mas o ar também é insaciável
e os seus limites são obliquamente estreitos
A mão empreende então a sua última tentativa:
passa humildemente a escrever sobre si mesma.
Roberto Juarroz (1925-1995)
em que a mão não se apercebe do limite da página
e sente que as sombras das letras que se escreve
saltam do papel.
Atrás dessas sombras,
passa então a escrever nos corpos espalhados pelo mundo,
num braço estendido,
nos restos de algo.
Mas chega outro dia,
em que a mão sente que todo o corpo devora
furtiva e precocemente
o obscuro alimento dos sinais.
Chegou para ela o momento
de escrever no próprio ar,
de conformr-se quase com o seu gesto.
mas o ar também é insaciável
e os seus limites são obliquamente estreitos
A mão empreende então a sua última tentativa:
passa humildemente a escrever sobre si mesma.
Roberto Juarroz (1925-1995)
quarta-feira, 9 de janeiro de 2008
A menina da floresta, do rio, da casa, do barco
Casinha simples no meio da floresta. A menina-moça sai e circunda o olhar pelos arredores. Quase sem ver, pois sabe cada árvore, cada planta, cada pedra...
Rodopia em homenagem ao paraíso que a rodeia. Dirige-se, lépida, ao rio em cuja margem mora. Banha-se.
Volta por um caminho mais longo, pois precisa colher os alimentos para o dia.
Prepara amorosamente a refeição, enquanto espera o pai que, acordando enquanto ela estivera fora, também se dirigira ao rio.
Cantarola e improvisa passos de dança que nunca vira, limpando e arrumando a casinha. Enfeita-a com flores e plantas em profusão. O pai costuma dizer, às gargalhadas, que, qualquer dia, terá que abrir espaço entre os cômodos da casa com um machado, pois não saberá mais o que é floresta e o que é moradia.
Como sua vida é boa, serena, feliz... Ela e o pai têm tudo de que precisam. Ou melhor, quase tudo. E esse é o senão.
A cada período, o pai precisa pegar o barco e ir buscar o que é impossível tirar ali mesmo daquela terra. É um dia inteiro fora e, para a menina, um dia de apreensão, suplício, medo, pavor... E se ele não voltar? O que será dela? Só há aquele barco. E, mesmo que houvesse outro, ela não saberia para onde ir. Jamais saíra dali. Não sabe sequer aonde exatamente o pai vai naqueles dias. Não poderia sequer procurá-lo ou ficar sabendo o que lhe acontecera.
Nesse dia de ausência do pai, encaminha-se, como sempre, para o rio, mas só há tristeza em sua alma. Está totalmente entregue ao desespero e à solidão.
Enquanto se banha, lentamente começa a perceber que as águas tornam-se menos frias, mais lentas. Fica imóvel e sente que o rio a acaricia mornamente, como a querer consolá-la.
Sai da água e, no caminho, as folhagens e ramas vão inclinando-se e envolvendo-a docemente, num abraço carinhoso.
Chega à campina e a relva dobra-se ligeiramente, como a incentivá-la a deitar-se em seu leito. Ela o faz.
O sol, terno, passeia por seu corpo aquecendo-a gradativamente: o rosto, os ombros e braços, o dorso, as pernas e pés. Pronto! Está relaxada e aquecida. O sol levou a tristeza, trazendo alegria!
Levanta-se e se depara com uma rampa bastante íngreme de grama, que a desafia a utilizar seu contorno escorregadio numa louca descida. Lança-se a escorregar grama abaixo cada vez mais rápido; cada vez mais livre. Grita e grita e grita... não sabe bem o que!
Então a velocidade começa a diminuir e ela pára mansamente, tonta de gozo.
Naquele momento, pingos de paz começam a cair. Ergue o rosto para a chuva fina que a acalma e acalenta.
Repleta de tantas emoções, aconchega-se a um tronco e adormece. Os frondosos galhos a protegem; a poderosa árvore lhe faz companhia.
Quando acorda, corre ansiosa e apreensiva até a beira do rio, para o ponto onde o pai sempre deixa o barco.
Não está lá! Olha para a extensão do rio até onde sua visão alcança. Há um pontinho que parece, lentamente, crescer. Corre ao longo do rio buscando distinguir aquilo que parece ver. Corre e corre na beira do rio, sem perder de vista o ponto. Até que, com o coração a dar saltos, percebe que é um barco. E, pouco depois, reconhece a embarcação do pai.
Agora está tudo bem, e a vida da menina da floresta da beira do rio segue boa, serena, feliz...
Até o dia em que o pai precisará novamente ausentar-se...
Rodopia em homenagem ao paraíso que a rodeia. Dirige-se, lépida, ao rio em cuja margem mora. Banha-se.
Volta por um caminho mais longo, pois precisa colher os alimentos para o dia.
Prepara amorosamente a refeição, enquanto espera o pai que, acordando enquanto ela estivera fora, também se dirigira ao rio.
Cantarola e improvisa passos de dança que nunca vira, limpando e arrumando a casinha. Enfeita-a com flores e plantas em profusão. O pai costuma dizer, às gargalhadas, que, qualquer dia, terá que abrir espaço entre os cômodos da casa com um machado, pois não saberá mais o que é floresta e o que é moradia.
Como sua vida é boa, serena, feliz... Ela e o pai têm tudo de que precisam. Ou melhor, quase tudo. E esse é o senão.
A cada período, o pai precisa pegar o barco e ir buscar o que é impossível tirar ali mesmo daquela terra. É um dia inteiro fora e, para a menina, um dia de apreensão, suplício, medo, pavor... E se ele não voltar? O que será dela? Só há aquele barco. E, mesmo que houvesse outro, ela não saberia para onde ir. Jamais saíra dali. Não sabe sequer aonde exatamente o pai vai naqueles dias. Não poderia sequer procurá-lo ou ficar sabendo o que lhe acontecera.
Nesse dia de ausência do pai, encaminha-se, como sempre, para o rio, mas só há tristeza em sua alma. Está totalmente entregue ao desespero e à solidão.
Enquanto se banha, lentamente começa a perceber que as águas tornam-se menos frias, mais lentas. Fica imóvel e sente que o rio a acaricia mornamente, como a querer consolá-la.
Sai da água e, no caminho, as folhagens e ramas vão inclinando-se e envolvendo-a docemente, num abraço carinhoso.
Chega à campina e a relva dobra-se ligeiramente, como a incentivá-la a deitar-se em seu leito. Ela o faz.
O sol, terno, passeia por seu corpo aquecendo-a gradativamente: o rosto, os ombros e braços, o dorso, as pernas e pés. Pronto! Está relaxada e aquecida. O sol levou a tristeza, trazendo alegria!
Levanta-se e se depara com uma rampa bastante íngreme de grama, que a desafia a utilizar seu contorno escorregadio numa louca descida. Lança-se a escorregar grama abaixo cada vez mais rápido; cada vez mais livre. Grita e grita e grita... não sabe bem o que!
Então a velocidade começa a diminuir e ela pára mansamente, tonta de gozo.
Naquele momento, pingos de paz começam a cair. Ergue o rosto para a chuva fina que a acalma e acalenta.
Repleta de tantas emoções, aconchega-se a um tronco e adormece. Os frondosos galhos a protegem; a poderosa árvore lhe faz companhia.
Quando acorda, corre ansiosa e apreensiva até a beira do rio, para o ponto onde o pai sempre deixa o barco.
Não está lá! Olha para a extensão do rio até onde sua visão alcança. Há um pontinho que parece, lentamente, crescer. Corre ao longo do rio buscando distinguir aquilo que parece ver. Corre e corre na beira do rio, sem perder de vista o ponto. Até que, com o coração a dar saltos, percebe que é um barco. E, pouco depois, reconhece a embarcação do pai.
Agora está tudo bem, e a vida da menina da floresta da beira do rio segue boa, serena, feliz...
Até o dia em que o pai precisará novamente ausentar-se...
A sóbria cor da linha poética.
Se não fosse teu sopro
jamais descobriria
na luz trêmula da vela
toda a fragilidade do fogo,
ó minha poesia!
Meu coração é uma lâmpada
que se apagou
mas ainda está quente...
Guardei secretamente os pedaços do amor,
que com a ausência perderam o centro.
Lembro-me deles quando os tinha
tecidos dentro de mim.
O colo onde dormi saciado.
Os seios onde sonhei acordado.
As histórias que me embalavam.
Muitos rios correram aqui.
Muitas pedras deixei no tempo,
cicatrizes muito fundas, mares.
Guardei secretamente os pedaços do amor.
As jóias, agora escondidas
em tênues paredes de vidro,
são tesouros revelados
tão presentes,
pequenos retalhos que teço
serenamente
com a memória,
até que a lembrança una
todos os prazeres a dois
para que neles se faça
uma manhã do depois.
jamais descobriria
na luz trêmula da vela
toda a fragilidade do fogo,
ó minha poesia!
Meu coração é uma lâmpada
que se apagou
mas ainda está quente...
Guardei secretamente os pedaços do amor,
que com a ausência perderam o centro.
Lembro-me deles quando os tinha
tecidos dentro de mim.
O colo onde dormi saciado.
Os seios onde sonhei acordado.
As histórias que me embalavam.
Muitos rios correram aqui.
Muitas pedras deixei no tempo,
cicatrizes muito fundas, mares.
Guardei secretamente os pedaços do amor.
As jóias, agora escondidas
em tênues paredes de vidro,
são tesouros revelados
tão presentes,
pequenos retalhos que teço
serenamente
com a memória,
até que a lembrança una
todos os prazeres a dois
para que neles se faça
uma manhã do depois.
terça-feira, 8 de janeiro de 2008
O vestido quadriculadinho azul e branco
Se não fosse quadriculado seria floral, de listras, cores ou simplesmente branco igual à maioria deles. Um pedaço de pano, uma parte da história a ser contada...
Muitos quadradinhos brancos e azuis colorem momentos eternos de Maria, uma mulher que merece viver e amar como outra qualquer do planeta. Ela decidiu que o seu vestido seria quadriculadinho, pequenos quadradinhos bem juntinhos, azul e branco. O vestido do dia que seria o dia mais feliz de sua vida, que escolheu para uma vida a dois. Nos romances e contos de fadas aparecem no final do livro, mas para ela, o primeiro dia do resto de suas vidas.
Um dia de sol, de sim e com muita gente partilhando a sua felicidade que transbordava a partir de um desejo de construir um lar, uma família.
O sim que marca a frase “e foram felizes para sempre”. E foram morar num apartamento perto do mar, em Copacabana no Rio de Janeiro. Lá construíram planos, paredes, móveis, filhos e muita rotina.
Num desses dias, quase todos iguais, Maria saiu para as compras e se deparou com uma vitrine. Um vestido quadriculadinho azul e branco, e seu rosto marcado pelo tempo. Naquele instante, se olhou profundamente e perguntou, onde estaria seu lindo vestido quadriculadinho azul e branco, que também deveria estar bem marcado pelo tempo. De lá para cá tantas marcas e tantos quadradinhos construídos, e agora desesperadamente bateu uma saudade imensa do vestido e do tempo “FELIZES PARA SEMPRE”.
Retornou a sua nudez tão desejada naquele momento, antes do vestido quadriculadinho azul e branco, e reencontrou seus sonhos. Lembrou de todas as faltas perdidas nos dias que sempre eram assim...
Marcas, cada uma feita e perdida num tempo. Lembrou da falta de abraços, espaços, perigos e abrigos. Da falta das folhas, de ar e de histórias. Perdeu o tempo das flores e de colher os frutos que tanto plantou e agora quer voltar a cada momento e sentir o gosto, cheiro e sabor. Usar seu vestido quadriculadinho azul e branco, repleto de sonhos e folhas em branco a serem descritas por uma vida inteira.
Ana Cristina Aguiar Vilhena de Carvalho
Muitos quadradinhos brancos e azuis colorem momentos eternos de Maria, uma mulher que merece viver e amar como outra qualquer do planeta. Ela decidiu que o seu vestido seria quadriculadinho, pequenos quadradinhos bem juntinhos, azul e branco. O vestido do dia que seria o dia mais feliz de sua vida, que escolheu para uma vida a dois. Nos romances e contos de fadas aparecem no final do livro, mas para ela, o primeiro dia do resto de suas vidas.
Um dia de sol, de sim e com muita gente partilhando a sua felicidade que transbordava a partir de um desejo de construir um lar, uma família.
O sim que marca a frase “e foram felizes para sempre”. E foram morar num apartamento perto do mar, em Copacabana no Rio de Janeiro. Lá construíram planos, paredes, móveis, filhos e muita rotina.
Num desses dias, quase todos iguais, Maria saiu para as compras e se deparou com uma vitrine. Um vestido quadriculadinho azul e branco, e seu rosto marcado pelo tempo. Naquele instante, se olhou profundamente e perguntou, onde estaria seu lindo vestido quadriculadinho azul e branco, que também deveria estar bem marcado pelo tempo. De lá para cá tantas marcas e tantos quadradinhos construídos, e agora desesperadamente bateu uma saudade imensa do vestido e do tempo “FELIZES PARA SEMPRE”.
Retornou a sua nudez tão desejada naquele momento, antes do vestido quadriculadinho azul e branco, e reencontrou seus sonhos. Lembrou de todas as faltas perdidas nos dias que sempre eram assim...
Marcas, cada uma feita e perdida num tempo. Lembrou da falta de abraços, espaços, perigos e abrigos. Da falta das folhas, de ar e de histórias. Perdeu o tempo das flores e de colher os frutos que tanto plantou e agora quer voltar a cada momento e sentir o gosto, cheiro e sabor. Usar seu vestido quadriculadinho azul e branco, repleto de sonhos e folhas em branco a serem descritas por uma vida inteira.
Ana Cristina Aguiar Vilhena de Carvalho
domingo, 6 de janeiro de 2008
Algumas linhas
“Se não fosse domingo”, ela lamentou. “Se não estivesse tão cansada”, suspirou. “Se não tivesse deixado para a última hora!" Agora, como libertar as palavras, tão escondidas, recolhidas com medo da folha em branco na tela?
Passara os últimos minutos apertando teclas, como a agulha abrindo caminho para linha. Lá no computador apareciam palavras: foi um substantivo, seguiu um verbo, pingou um artigo e chegou emplumado um adjetivo. “Ei, cabe um adjetivo? Ah, não! Sem adjetivo aqui!” Apagava tudo: adjetivo, artigo, verbo e substantivo. E lá estava a folha em branco a levantar a sobrancelha, desafiando. “Lutar com palavras é a luta mais vã”, disse o poeta.
Segurou o retalho com os dedos gordinhos. “Se não fosse um trabalho da pós-graduação”, lamentou e suspirou. E se fosse apenas o desafio de uma amiga entediada, uma das birutices da Carol, que havia sido engolida pelo trabalho? “Nunca mais tive Carol e suas birutices!” Num instante, ouviu a voz divertida da amiga: “separei este retalho para você. Nele, há uma história escondida, uma história presa nas tramas, texturas e cores do pedaço do tecido. Você tem a tarefa de contar essa história, mas, para que ela se revele perfeitamente, o estilo de narrar deve acompanhar o estilo de tecer. Tecido leve, escrita leve; tecido colorido, escrita colorida; tecido sóbrio, escrita sóbria”.
Parou um segundo e percebeu que não era mais um trabalho da pós. Era um desafio da Carol, do qual não fugiria! Foi a vez dela de levantar a sobrancelha para a folha na tela. Começou a tecer: lá foram a correr substantivos, verbos, artigos e adjetivos. Decidiu contar na terceira pessoa, como espectadora da própria história. Parou logo após escrever “espectadora da própria história”. É que o retalho havia escorregado e agora estava deitado no chão de madeira. Mais uma vez, suas mãozinhas o seguraram.
Olhou para ele por cima dos óculos, como se o estivesse vendo pela primeira vez. Era preto e branco, portanto, clássico e sóbrio, certo? Mas também era estampado, divertido, com flores grandes e uma alegria primaveril. E quanto à espessura? Bem, era grosso se comparado à seda, e leve se confrontado com a lã. “Sóbrio e divertido, leve e grosso, isso não é nada bom”, pensou. Sim, era difícil de definir, tal qual seu texto, o qual queria ser sério e virou divertido, e pretendia ser leve e foi ganhando peso, com períodos mais longos.
O novelo era curto e a folha estava acabando. Sabia que era hora de dar o arremate final. “Se não tivesse começado daquela forma e nem enrolado no meio”, culpou-se. Agora estava ali um texto sem pé nem cabeça, assim como o retalho, que não é vestido, não é calça e nem mesmo uma blusa! É só um pedaço! Pedaço de pano, pedaço de texto.
Decidiu salvar o documento. Depois, enviou à professora, com cópia oculta para a amiga Carol. Por fim, lançou um olhar zangado à sobra de tecido e disse com rancor: “você não deu nem pano para a manga!”
Gabriela Mendes
Passara os últimos minutos apertando teclas, como a agulha abrindo caminho para linha. Lá no computador apareciam palavras: foi um substantivo, seguiu um verbo, pingou um artigo e chegou emplumado um adjetivo. “Ei, cabe um adjetivo? Ah, não! Sem adjetivo aqui!” Apagava tudo: adjetivo, artigo, verbo e substantivo. E lá estava a folha em branco a levantar a sobrancelha, desafiando. “Lutar com palavras é a luta mais vã”, disse o poeta.
Segurou o retalho com os dedos gordinhos. “Se não fosse um trabalho da pós-graduação”, lamentou e suspirou. E se fosse apenas o desafio de uma amiga entediada, uma das birutices da Carol, que havia sido engolida pelo trabalho? “Nunca mais tive Carol e suas birutices!” Num instante, ouviu a voz divertida da amiga: “separei este retalho para você. Nele, há uma história escondida, uma história presa nas tramas, texturas e cores do pedaço do tecido. Você tem a tarefa de contar essa história, mas, para que ela se revele perfeitamente, o estilo de narrar deve acompanhar o estilo de tecer. Tecido leve, escrita leve; tecido colorido, escrita colorida; tecido sóbrio, escrita sóbria”.
Parou um segundo e percebeu que não era mais um trabalho da pós. Era um desafio da Carol, do qual não fugiria! Foi a vez dela de levantar a sobrancelha para a folha na tela. Começou a tecer: lá foram a correr substantivos, verbos, artigos e adjetivos. Decidiu contar na terceira pessoa, como espectadora da própria história. Parou logo após escrever “espectadora da própria história”. É que o retalho havia escorregado e agora estava deitado no chão de madeira. Mais uma vez, suas mãozinhas o seguraram.
Olhou para ele por cima dos óculos, como se o estivesse vendo pela primeira vez. Era preto e branco, portanto, clássico e sóbrio, certo? Mas também era estampado, divertido, com flores grandes e uma alegria primaveril. E quanto à espessura? Bem, era grosso se comparado à seda, e leve se confrontado com a lã. “Sóbrio e divertido, leve e grosso, isso não é nada bom”, pensou. Sim, era difícil de definir, tal qual seu texto, o qual queria ser sério e virou divertido, e pretendia ser leve e foi ganhando peso, com períodos mais longos.
O novelo era curto e a folha estava acabando. Sabia que era hora de dar o arremate final. “Se não tivesse começado daquela forma e nem enrolado no meio”, culpou-se. Agora estava ali um texto sem pé nem cabeça, assim como o retalho, que não é vestido, não é calça e nem mesmo uma blusa! É só um pedaço! Pedaço de pano, pedaço de texto.
Decidiu salvar o documento. Depois, enviou à professora, com cópia oculta para a amiga Carol. Por fim, lançou um olhar zangado à sobra de tecido e disse com rancor: “você não deu nem pano para a manga!”
Gabriela Mendes
sexta-feira, 4 de janeiro de 2008
A TURMA TECELÃ
Se não fosse assim, teria sido bem estranho. Porque o início foi como todos os inícios. Começamos a tessitura com um fio bem neutro: cor indefinida, velocidade lenta, pontos cautelosos, textura frouxa. Portanto, neutralidade total; um começo como quaisquer outros começos.
Porém, logo que alguém experimentou um fio colorido, a neutralidade foi para o espaço. Em conseqüência, a cautela se foi também; a velocidade do tecer aumentou; e o fio nos percorreu, nos ligou um a um fazendo a textura um tanto mais forte: tornamo-nos tecido. Naquele momento mágico, percebemos que, além de tecer conhecimentos acadêmicos, talvez, mudando a cor do fio de vez em quando, pudéssemos, também, tecer sentimentos, desejos, realizações; por que não?
E – é claro! – não foi de vez em quando. Percebemos que podíamos tecer qualquer coisa, tudo, o tempo todo.
Então, ora era uma história começada a ser tecida por um e acabada por todos. Ora era um anseio começado a ser tecido por um e acabado por todos. Ora era uma lembrança começada a ser tecida por um e acabada por todos; isso mesmo, até as lembranças são como que coletivas, comuns, comungadas.
Os fios se tornaram infinitos em cores, matizes, texturas... Pois, como quantificar as tantas combinações possíveis quando todos tecem juntos diferentes tecidos que são os mesmos?
Os meus fios formavam flores pretas em um fundo vermelho. Mas não duraram muito. Na verdade, não duraram nada, pois logo alguém introduziu o amarelo do sol que banhou tudo; outro, o marrom das abelhas que beijaram as flores; mais um, o branco das nuvens que refrescaram, com suas sombras, o chão negro; uma, o nuance prateado da chuva que borrifou as flores e marejou a terra; aquela, o verde que presenteou o solo com a grama macia e tenra; e mais outro; e mais outro; e mais outro.
E o verbo começar do parágrafo anterior foi apenas força de expressão. Ficou parecendo que os outros contribuíam com meu tecido. Mas isso acontece apenas porque sou eu a escrever este texto. Nada, quanto a esse começo, é garantido. Foi tudo mágico; ninguém sabe quem iniciou.
Sei, apenas, que jamais vivi coisa igual. Será isso o que Fernão Capelo Gaivota sentiu? Encontramos nossos iguais? Nosso bando? Aqueles que iluminamos e nos iluminam ou nos iluminam e iluminamos?
Edna Menos Capelo Farias.
Porém, logo que alguém experimentou um fio colorido, a neutralidade foi para o espaço. Em conseqüência, a cautela se foi também; a velocidade do tecer aumentou; e o fio nos percorreu, nos ligou um a um fazendo a textura um tanto mais forte: tornamo-nos tecido. Naquele momento mágico, percebemos que, além de tecer conhecimentos acadêmicos, talvez, mudando a cor do fio de vez em quando, pudéssemos, também, tecer sentimentos, desejos, realizações; por que não?
E – é claro! – não foi de vez em quando. Percebemos que podíamos tecer qualquer coisa, tudo, o tempo todo.
Então, ora era uma história começada a ser tecida por um e acabada por todos. Ora era um anseio começado a ser tecido por um e acabado por todos. Ora era uma lembrança começada a ser tecida por um e acabada por todos; isso mesmo, até as lembranças são como que coletivas, comuns, comungadas.
Os fios se tornaram infinitos em cores, matizes, texturas... Pois, como quantificar as tantas combinações possíveis quando todos tecem juntos diferentes tecidos que são os mesmos?
Os meus fios formavam flores pretas em um fundo vermelho. Mas não duraram muito. Na verdade, não duraram nada, pois logo alguém introduziu o amarelo do sol que banhou tudo; outro, o marrom das abelhas que beijaram as flores; mais um, o branco das nuvens que refrescaram, com suas sombras, o chão negro; uma, o nuance prateado da chuva que borrifou as flores e marejou a terra; aquela, o verde que presenteou o solo com a grama macia e tenra; e mais outro; e mais outro; e mais outro.
E o verbo começar do parágrafo anterior foi apenas força de expressão. Ficou parecendo que os outros contribuíam com meu tecido. Mas isso acontece apenas porque sou eu a escrever este texto. Nada, quanto a esse começo, é garantido. Foi tudo mágico; ninguém sabe quem iniciou.
Sei, apenas, que jamais vivi coisa igual. Será isso o que Fernão Capelo Gaivota sentiu? Encontramos nossos iguais? Nosso bando? Aqueles que iluminamos e nos iluminam ou nos iluminam e iluminamos?
Edna Menos Capelo Farias.
quinta-feira, 3 de janeiro de 2008
Texto tecido
Certo dia, recebi um e-mail pedindo que se levasse para a sala de aula um pedaço de tecido velho, o famoso retalho. É dessas coisas loucas que a gente só ouve num curso como o aquele. Fiquei surpresa e confesso, chateada, pois ninguém imagina para que um pedaço velho de tecido possa servir ainda mais num curso de pós da PUC.
Quando criança via sempre minha mãe pegar os panos velhos para fazer de pano de chão, tinha também aqueles retalhos de costura de tecido pouco absorvente que as mulheres da casa utilizavam para fazer aqueles tapetes que ninguém conseguia vender e todos rezavam para não receber de presente.
Que interessante, de repente não consigo parar de me lembrar da minha infância, da minha avó remendando as calças surradas dos meus tios, daqueles tapetes, daquelas mulheres costureiras, o cheiro de bolo sendo assado pela casa, meu deus, mas pra que serviria o retalho?
Tudo bem que a disciplina chama-se tessitura do texto e vá lá que se compare o texto ao tecido, mas o que se pode fazer com um pedaço de pano velho numa aula?
Nossa!Lembro daquela festa junina que eu não tinha vestido e mamãe improvisou aquele vestido velho com o saco de retalhos da titia que estava lá no fundo do armário, lembro até daquela antiga máxima “quem guarda tem!”, caramba, como me diverti naquela noite de São João...
Puxa quanta lembrança!Acho fiz uma viagem no tempo.
De repente me ocorreu que um tecido é a junção de vários retalhos de mesmo tecido que antes eram pequenos fios, que não servem para outra coisa senão junto com outros milhares de fios formar o tecido.
Percebo agora que é isso que sou, é o que somos todos... a junção fio a fio das pessoas que passam pelas nossas vidas; as que ficam e as que vão, dos lugares que conhecemos, dos livros que lemos, dos nossos entes queridos, das pessoas que admiramos, do conhecimento que adquirimos ao longo dos anos, e a novidade é que o tecido fica mais bonito, mais colorido e mais forte quando tecemos com outros sem preconceitos e quando valorizamos cada dia da nossa existência e da existência do nosso próximo!
Por Flávia Nogueira.
quarta-feira, 2 de janeiro de 2008
relemabrnod Erica
O nosso cérebro é doido !!! De aorcdo com uma peqsiusa de uma uinrvesriddae ignlsea, não ipomtra em qaul odrem as Lteras de uma plravaa etãso, a úncia csioa iprotmatne é que a piremria e útmlia Lteras etejasm no lgaur crteo. O rseto pdoe ser uma bçguana ttaol, que vcoê anida pdoe ler sem pobrlmea. Itso é poqrue nós não lmeos cdaa Ltera isladoa, mas a plravaa cmoo um tdoo. Sohw de bloa.
Fixe seus olhos no texto abaixo e deixe que a sua mente leia corretamente o que está escrito.
35T3 P3QU3N0 T3XTO 53RV3 4P3N45 P4R4 M05TR4R COMO NO554 C4B3Ç4 CONS3GU3 F4Z3R CO1545 1MPR3551ON4ANT35! R3P4R3 N155O! NO COM3ÇO 35T4V4 M310 COMPL1C4DO, M45 N3ST4 L1NH4 SU4 M3NT3 V41 D3C1FR4NDO O CÓD1GO QU453 4UTOM4T1C4M3NT3, S3M PR3C1S4R P3N54R MU1TO, C3RTO? POD3 F1C4R B3M ORGULHO5O D155O! SU4 C4P4C1D4D3 M3R3C3! P4R4BÉN5!
Fixe seus olhos no texto abaixo e deixe que a sua mente leia corretamente o que está escrito.
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