terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

ALGO QUE, POR MILÊNIOS, CONTINUA A NOS INFLUENCIAR?

Estou me sentindo esquisita. Meio assombrada. Arrepios percorrem meu corpo.
Há pouco choveu. Foi uma daquelas tempestades de verão, quando o dia escurece de repente, o céu fica carregado de eletricidade e os raios chicoteiam o ar como que empunhados por deuses furiosos.
Choveu muito e forte. Mas a fúria em forma de pingos grossos e fustigantes passou rapidamente, deixando em tudo uma estranha aparência fantasmagórica. Era o fim do dia, mas ainda não era o início da noite, e o céu estava coberto por nuvens negras que deixavam cair uma chuva fina; porém havia claros em alguns pontos, o que permitia ver ora uma parca luminosidade solar, ora uma nesga azulada. Tal composição resultou hipnoticamente atraente; saí para ver melhor.
E foi quando senti o arrepio, pois lá estava a lua em meio ao furor que ainda pairava, como que suspenso, ameaçando o ar. Estranhamente ela ganhara um quê de sobrenatural. Esse sentimento parecia incongruente, uma vez que a lua sempre me trouxera sensações boas. Ah, mas, dessa vez, ela estava assustadora.
Talvez o que amedronte seja a combinação inusitada... Sol mais chuva é comum e acho lindo; pois empresta a tudo uma atmosfera festiva, luminosa, encantada. Faz lembrar infância. Quando criança, acontecia, menos do que gostaríamos, de nos deixarem tomar banho de chuva de verão, e, então, o sol saía para brincar conosco e nos presentear, quando tínhamos sorte, com um arco-íris. Deus, como era gostoso! O cheiro, os pingos grossos e cálidos, o cheiro, a luz dourada e alaranjada, o cheiro, o vento doce e morno, o cheiro, o sol terno e fugidio, o cheiro...
Lua e chuva, porém, foi a primeira vez que vi e não gostei.
Quem mais terá visto e o que terá sentido, então? Já li, umas tantas vezes, sobre sol e chuva simultâneos; entretanto nada sobre lua e chuva. Gostaria de saber o que pensou e sentiu quem, porventura, contemplou o mesmo cenário que eu...
A solidão impõe um ônus, por vezes, insuportável!
Engoli o choro tentando desfazer o nó da garganta e espantar o tremor. Recorri ao telefone: precisava compartilhar o que estava vendo; saber o que sentiam; ouvir que estava tudo bem... Não encontrei ninguém, e a solidão tornou-se quase sólida a me cortar o coração assombrado.
Também, quem eu esperava encontrar, num domingo à noite, interessado em minhas impressões sobre a chuva, a lua e os raios? Francamente...!

2 comentários:

Tania disse...

Pode contar comigo! Domingo, sábado, qualquer dia. Mas sem perder a belezura do poema.

Professor Texto disse...

Chuva com sol: casamento de espanhol.
Sol com chuva: casamento de viúva.
Chuva com lua?
Casamento perpetua, ora!
=)