segunda-feira, 23 de junho de 2008

PERFEIÇÃO

Nem sempre se vê ou se reconhece a perfeição. Pois essa parece algo inexistente; sobrenatural; que, se acontecesse, traria êxtase, elevação, glória divina; e isso ninguém sai por aí experimentando, não é mesmo?

Então, concluiu-se que a perfeição é qualquer coisa assim como o unicórnio: se encontrado, você é abençoado, único, enfim, perfeito.

Pois é. É exatamente sobre essa coisa tão extraordinária que vou escrever. No meu caso, acontece assim: há ocasiões – muito de vez em quando, é verdade – em que meus olhos teimam em ver. Simplesmente ver. É... porque nem sempre é assim, nem sempre eu permito que eles façam aquilo para o que foram talhados - ver; teimo em toldá-los com meus conceitos, convicções, visões.

Porém, no que me distraio, lá vão eles a exercerem a magnífica arte de ver. Vou lhes contar o que, volta e meia, me mostram.

Adoro rosa amarela e, há anos, não ganhava uma sequer. Recebia rosas algumas vezes, mas nunca amarelas. Um dia, estava bastante angustiada por não ter podido ajudar o irmão de minha manicure que sofrera um acidente e falecera. Pensava que deveria ter agido mais rapidamente, ter tentado todos os meus contatos; enfim, não fizera o suficiente. Passei aquela noite me recriminando e, pela manhã, enquanto caminhava para o trabalho de cabeça baixa ainda pensando no assunto, vi, junto a uma grande árvore que estava no meu caminho todos os dias, a rosa amarela mais perfeita. Soube, naquele momento: ela era para mim; ele estava bem; e eu não precisava me atormentar mais.

Outro episódio: estava levando minha mãe para um tratamento quimioterápico. O caminho era pelo Alto da Boa Vista. Há, pelo menos, quatro anos que moro na Tijuca e passo sempre por ali. O caminho é paradisíaco, gosto muito e tudo mais. Nada de tão inusitado até aí. Mas, naquele dia, enquanto a angústia enegrecia meu coração, o trânsito ficou momentaneamente interrompido, e a maior, mais azul e mais bela borboleta passou próximo ao lugar onde eu estava. O bater de suas aniladas asas pareceu levar a escuridão de mim. O pensamento que tive foi: seja lá o for, eu posso suportar, ou Deus não teria me impingido isso. Olhei sorrindo para minha mãe e mostrei a borboleta que já se esquivava.

Poderia contar vários episódios desse tipo. Porém, o milagre que me acontece, sempre que tenho sorte, é receber um sorriso. Às vezes estou tão angustiada, tão voltada para minhas próprias mazelas, e – ao levantar os olhos – deparo-me com alguém que me sorri um doce sorriso feminino; retribuo quase sem pensar, e sempre, sempre, sinto a doçura voltar. E sempre, sempre, reconheço e agradeço a bênção daquele sorriso. Quando estou acompanhada e a outra pessoa percebe que me sorriram, pergunta se conheço. No início dizia que não. Mas agora digo sempre que sim.

Sem dúvida conheço: é alguém especial, e o mundo está cheio desses seres que vivem por buscar despertar, nos outros, aquilo de bom que todos temos.

Por favor, anjos sorridentes, não desistam de mim. Eu os vejo e os prezo.

Edna Farias