Chega um dia
em que a mão não se apercebe do limite da página
e sente que as sombras das letras que se escreve
saltam do papel.
Atrás dessas sombras,
passa então a escrever nos corpos espalhados pelo mundo,
num braço estendido,
nos restos de algo.
Mas chega outro dia,
em que a mão sente que todo o corpo devora
furtiva e precocemente
o obscuro alimento dos sinais.
Chegou para ela o momento
de escrever no próprio ar,
de conformr-se quase com o seu gesto.
mas o ar também é insaciável
e os seus limites são obliquamente estreitos
A mão empreende então a sua última tentativa:
passa humildemente a escrever sobre si mesma.
Roberto Juarroz (1925-1995)
sábado, 12 de janeiro de 2008
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