Se não fosse quadriculado seria floral, de listras, cores ou simplesmente branco igual à maioria deles. Um pedaço de pano, uma parte da história a ser contada...
Muitos quadradinhos brancos e azuis colorem momentos eternos de Maria, uma mulher que merece viver e amar como outra qualquer do planeta. Ela decidiu que o seu vestido seria quadriculadinho, pequenos quadradinhos bem juntinhos, azul e branco. O vestido do dia que seria o dia mais feliz de sua vida, que escolheu para uma vida a dois. Nos romances e contos de fadas aparecem no final do livro, mas para ela, o primeiro dia do resto de suas vidas.
Um dia de sol, de sim e com muita gente partilhando a sua felicidade que transbordava a partir de um desejo de construir um lar, uma família.
O sim que marca a frase “e foram felizes para sempre”. E foram morar num apartamento perto do mar, em Copacabana no Rio de Janeiro. Lá construíram planos, paredes, móveis, filhos e muita rotina.
Num desses dias, quase todos iguais, Maria saiu para as compras e se deparou com uma vitrine. Um vestido quadriculadinho azul e branco, e seu rosto marcado pelo tempo. Naquele instante, se olhou profundamente e perguntou, onde estaria seu lindo vestido quadriculadinho azul e branco, que também deveria estar bem marcado pelo tempo. De lá para cá tantas marcas e tantos quadradinhos construídos, e agora desesperadamente bateu uma saudade imensa do vestido e do tempo “FELIZES PARA SEMPRE”.
Retornou a sua nudez tão desejada naquele momento, antes do vestido quadriculadinho azul e branco, e reencontrou seus sonhos. Lembrou de todas as faltas perdidas nos dias que sempre eram assim...
Marcas, cada uma feita e perdida num tempo. Lembrou da falta de abraços, espaços, perigos e abrigos. Da falta das folhas, de ar e de histórias. Perdeu o tempo das flores e de colher os frutos que tanto plantou e agora quer voltar a cada momento e sentir o gosto, cheiro e sabor. Usar seu vestido quadriculadinho azul e branco, repleto de sonhos e folhas em branco a serem descritas por uma vida inteira.
Ana Cristina Aguiar Vilhena de Carvalho
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