sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

A TURMA TECELÃ

Se não fosse assim, teria sido bem estranho. Porque o início foi como todos os inícios. Começamos a tessitura com um fio bem neutro: cor indefinida, velocidade lenta, pontos cautelosos, textura frouxa. Portanto, neutralidade total; um começo como quaisquer outros começos.
Porém, logo que alguém experimentou um fio colorido, a neutralidade foi para o espaço. Em conseqüência, a cautela se foi também; a velocidade do tecer aumentou; e o fio nos percorreu, nos ligou um a um fazendo a textura um tanto mais forte: tornamo-nos tecido. Naquele momento mágico, percebemos que, além de tecer conhecimentos acadêmicos, talvez, mudando a cor do fio de vez em quando, pudéssemos, também, tecer sentimentos, desejos, realizações; por que não?
E – é claro! – não foi de vez em quando. Percebemos que podíamos tecer qualquer coisa, tudo, o tempo todo.
Então, ora era uma história começada a ser tecida por um e acabada por todos. Ora era um anseio começado a ser tecido por um e acabado por todos. Ora era uma lembrança começada a ser tecida por um e acabada por todos; isso mesmo, até as lembranças são como que coletivas, comuns, comungadas.
Os fios se tornaram infinitos em cores, matizes, texturas... Pois, como quantificar as tantas combinações possíveis quando todos tecem juntos diferentes tecidos que são os mesmos?
Os meus fios formavam flores pretas em um fundo vermelho. Mas não duraram muito. Na verdade, não duraram nada, pois logo alguém introduziu o amarelo do sol que banhou tudo; outro, o marrom das abelhas que beijaram as flores; mais um, o branco das nuvens que refrescaram, com suas sombras, o chão negro; uma, o nuance prateado da chuva que borrifou as flores e marejou a terra; aquela, o verde que presenteou o solo com a grama macia e tenra; e mais outro; e mais outro; e mais outro.
E o verbo começar do parágrafo anterior foi apenas força de expressão. Ficou parecendo que os outros contribuíam com meu tecido. Mas isso acontece apenas porque sou eu a escrever este texto. Nada, quanto a esse começo, é garantido. Foi tudo mágico; ninguém sabe quem iniciou.
Sei, apenas, que jamais vivi coisa igual. Será isso o que Fernão Capelo Gaivota sentiu? Encontramos nossos iguais? Nosso bando? Aqueles que iluminamos e nos iluminam ou nos iluminam e iluminamos?

Edna Menos Capelo Farias.

2 comentários:

Molflavia disse...

Ah...Edna...você tem o dom de me emocionar...que saudade de tudo e de todos...bjs

patricia disse...

Edna, vc é uma fada tecelã. Amei!