quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Texto tecido


Certo dia, recebi um e-mail pedindo que se levasse para a sala de aula um pedaço de tecido velho, o famoso retalho. É dessas coisas loucas que a gente só ouve num curso como o aquele. Fiquei surpresa e confesso, chateada, pois ninguém imagina para que um pedaço velho de tecido possa servir ainda mais num curso de pós da PUC.

Quando criança via sempre minha mãe pegar os panos velhos para fazer de pano de chão, tinha também aqueles retalhos de costura de tecido pouco absorvente que as mulheres da casa utilizavam para fazer aqueles tapetes que ninguém conseguia vender e todos rezavam para não receber de presente.

Que interessante, de repente não consigo parar de me lembrar da minha infância, da minha avó remendando as calças surradas dos meus tios, daqueles tapetes, daquelas mulheres costureiras, o cheiro de bolo sendo assado pela casa, meu deus, mas pra que serviria o retalho?

Tudo bem que a disciplina chama-se tessitura do texto e vá lá que se compare o texto ao tecido, mas o que se pode fazer com um pedaço de pano velho numa aula?

Nossa!Lembro daquela festa junina que eu não tinha vestido e mamãe improvisou aquele vestido velho com o saco de retalhos da titia que estava lá no fundo do armário, lembro até daquela antiga máxima “quem guarda tem!”, caramba, como me diverti naquela noite de São João...

Puxa quanta lembrança!Acho fiz uma viagem no tempo.
De repente me ocorreu que um tecido é a junção de vários retalhos de mesmo tecido que antes eram pequenos fios, que não servem para outra coisa senão junto com outros milhares de fios formar o tecido.

Percebo agora que é isso que sou, é o que somos todos... a junção fio a fio das pessoas que passam pelas nossas vidas; as que ficam e as que vão, dos lugares que conhecemos, dos livros que lemos, dos nossos entes queridos, das pessoas que admiramos, do conhecimento que adquirimos ao longo dos anos, e a novidade é que o tecido fica mais bonito, mais colorido e mais forte quando tecemos com outros sem preconceitos e quando valorizamos cada dia da nossa existência e da existência do nosso próximo!





Por Flávia Nogueira.

2 comentários:

Gabi disse...

"Percebo agora que é isso que sou, é o que somos todos... a junção fio a fio das pessoas que passam pelas nossas vidas; as que ficam e as que vão, dos lugares que conhecemos, dos livros que lemos, dos nossos entes queridos, das pessoas que admiramos, do conhecimento que adquirimos ao longo dos anos, e a novidade é que o tecido fica mais bonito, mais colorido e mais forte quando tecemos com outros sem preconceitos e quando valorizamos cada dia da nossa existência e da existência do nosso próximo!"

Que lindo! É maravilhoso saber que o retalho rendeu um texto tão bom, tão...completo!

patricia disse...

E tão gostoso ler um texto lindo, lindo, de uma amiga e sentir-se presente nele. Obrigada Flavinha!