Estou me sentindo esquisita. Meio assombrada. Arrepios percorrem meu corpo.
Há pouco choveu. Foi uma daquelas tempestades de verão, quando o dia escurece de repente, o céu fica carregado de eletricidade e os raios chicoteiam o ar como que empunhados por deuses furiosos.
Choveu muito e forte. Mas a fúria em forma de pingos grossos e fustigantes passou rapidamente, deixando em tudo uma estranha aparência fantasmagórica. Era o fim do dia, mas ainda não era o início da noite, e o céu estava coberto por nuvens negras que deixavam cair uma chuva fina; porém havia claros em alguns pontos, o que permitia ver ora uma parca luminosidade solar, ora uma nesga azulada. Tal composição resultou hipnoticamente atraente; saí para ver melhor.
E foi quando senti o arrepio, pois lá estava a lua em meio ao furor que ainda pairava, como que suspenso, ameaçando o ar. Estranhamente ela ganhara um quê de sobrenatural. Esse sentimento parecia incongruente, uma vez que a lua sempre me trouxera sensações boas. Ah, mas, dessa vez, ela estava assustadora.
Talvez o que amedronte seja a combinação inusitada... Sol mais chuva é comum e acho lindo; pois empresta a tudo uma atmosfera festiva, luminosa, encantada. Faz lembrar infância. Quando criança, acontecia, menos do que gostaríamos, de nos deixarem tomar banho de chuva de verão, e, então, o sol saía para brincar conosco e nos presentear, quando tínhamos sorte, com um arco-íris. Deus, como era gostoso! O cheiro, os pingos grossos e cálidos, o cheiro, a luz dourada e alaranjada, o cheiro, o vento doce e morno, o cheiro, o sol terno e fugidio, o cheiro...
Lua e chuva, porém, foi a primeira vez que vi e não gostei.
Quem mais terá visto e o que terá sentido, então? Já li, umas tantas vezes, sobre sol e chuva simultâneos; entretanto nada sobre lua e chuva. Gostaria de saber o que pensou e sentiu quem, porventura, contemplou o mesmo cenário que eu...
A solidão impõe um ônus, por vezes, insuportável!
Engoli o choro tentando desfazer o nó da garganta e espantar o tremor. Recorri ao telefone: precisava compartilhar o que estava vendo; saber o que sentiam; ouvir que estava tudo bem... Não encontrei ninguém, e a solidão tornou-se quase sólida a me cortar o coração assombrado.
Também, quem eu esperava encontrar, num domingo à noite, interessado em minhas impressões sobre a chuva, a lua e os raios? Francamente...!
terça-feira, 19 de fevereiro de 2008
sábado, 9 de fevereiro de 2008
O olhar
Observando a paisagem que olho todos os dias há quase quatro anos, noto, em meio às montanhas recobertas pela mata verdejante da Floresta da Tijuca, uma formação rochosa que emerge tão agressivamente quanto um espinho.
Curioso...
Naturalmente ela esteve lá durante todo esse tempo em que venho passeando meu olhar por aquelas encostas, vales, elevações, ondulações, protuberâncias: todos recobertos por incontáveis tons de verde, salpicados de branco e, às vezes, após a chuva, também prata.
Nunca havia reparado naquele espinho de pedra. É uma montanha parecendo feita de uma rocha só, que sai naturalmente em meio a todas as outras. Todas com sua cobertura natural de mata, e ela com sua cobertura natural de lâmina. Entretanto, tão perfeitamente integrada, que não causa estranheza.
Deixei de fazer o que estava fazendo – ou não fazendo, pois, desde quando máquina de lavar roupa precisa de alguém olhando enquanto faz o seu ofício? – e me dispus a pensar a respeito da razão pela qual aquela montanha aguda de pedra passou a eclipsar todas as outras; o motivo de, mesmo agora, sem olhá-la, a mesma não sair de minha retina...
É porque tenho, como o Parque Nacional da Tijuca, os meus espinhos. A esperança é que eles estejam tão bem integrados ao meu todo que passem despercebidos. Como aquela montanha, os meus não devem ser destaque, não devem ter papel importante, não devem aparecer.
Sei que já foi diferente e lamento. Perdi tanto tempo usando mais a elevação de espinho do que as de matas promissoras, que quase esqueci para que serviam as outras tantas montanhas que existiam em mim.
Foi preciso um longo e doloroso olhar na minha formação e no modo como a vinha utilizando. Deixar de ser o que se vinha sendo há tanto tempo é morrer... Morro um pouco dia a dia. Será que o caminho para o aprimoramento não é morrer um pouco até o fim? Pára-se de morrer até a morte? Ou quando se pára de morrer é porque está na hora do fim: alcançou-se a plenitude e chega-se à morte.
Quem já não ouviu: Fulano estava tão feliz; no auge da carreira, uma família maravilhosa, os sonhos realizados e, no entanto, morreu. Talvez não seja no entanto; talvez seja por isso.
Curioso...
Naturalmente ela esteve lá durante todo esse tempo em que venho passeando meu olhar por aquelas encostas, vales, elevações, ondulações, protuberâncias: todos recobertos por incontáveis tons de verde, salpicados de branco e, às vezes, após a chuva, também prata.
Nunca havia reparado naquele espinho de pedra. É uma montanha parecendo feita de uma rocha só, que sai naturalmente em meio a todas as outras. Todas com sua cobertura natural de mata, e ela com sua cobertura natural de lâmina. Entretanto, tão perfeitamente integrada, que não causa estranheza.
Deixei de fazer o que estava fazendo – ou não fazendo, pois, desde quando máquina de lavar roupa precisa de alguém olhando enquanto faz o seu ofício? – e me dispus a pensar a respeito da razão pela qual aquela montanha aguda de pedra passou a eclipsar todas as outras; o motivo de, mesmo agora, sem olhá-la, a mesma não sair de minha retina...
É porque tenho, como o Parque Nacional da Tijuca, os meus espinhos. A esperança é que eles estejam tão bem integrados ao meu todo que passem despercebidos. Como aquela montanha, os meus não devem ser destaque, não devem ter papel importante, não devem aparecer.
Sei que já foi diferente e lamento. Perdi tanto tempo usando mais a elevação de espinho do que as de matas promissoras, que quase esqueci para que serviam as outras tantas montanhas que existiam em mim.
Foi preciso um longo e doloroso olhar na minha formação e no modo como a vinha utilizando. Deixar de ser o que se vinha sendo há tanto tempo é morrer... Morro um pouco dia a dia. Será que o caminho para o aprimoramento não é morrer um pouco até o fim? Pára-se de morrer até a morte? Ou quando se pára de morrer é porque está na hora do fim: alcançou-se a plenitude e chega-se à morte.
Quem já não ouviu: Fulano estava tão feliz; no auge da carreira, uma família maravilhosa, os sonhos realizados e, no entanto, morreu. Talvez não seja no entanto; talvez seja por isso.
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
Um tecido, um texto
Se não fosse bem assim, nem sei o que seria de mim!
Afinal, já dizia meu avô:”Deus ajuda a quem cedo madruga!”
Eu poderia tecer uma manhã, que nunca seria tarde. Uma tarde que nunca seria noite. Uma noite que nunca fim daria.
Meus pés estariam descalços, minhas mãos calejadas, a fé desarranjada...
Mas nada me fez desistir!
Acreditei que o sofrimento não me destruiria; pelo contrário, me faria mais forte e persistente.
Coloquei meu sonho na bagagem, arrumei caminho onde não tinha passagem, abri portas que estavam fechadas.
Teci a minha própria história.
Provei que era capaz.
Vi cada manhã como um presente, se era sol; tecia um dia de alegria; se chovia, tecia um dia de aconchego.
Da minha dor, não restou amarguras.
Primeiro comecei tecendo fios mais serenos, sem medo de errar o entrelaçado, tudo não passava de uma brincadeira e, dessa brincadeira, a cada ponto fechado, a vida tomava formas e cores.
Hoje restou um tecido encarnado, encorpado, fazia parte do fechamento de mais uma etapa, cada retalho tinha seu significado.
Esse era o ponto de partida da minha tessitura – Tessitura do texto – Como pôde ter me dito tantas coisas... Fiz a leitura das rosas, sim, lembram o jardim de rosas vermelhas da minha avó. Quantos arranhões! Quantas rosas roubadas para a professora...
Muitas paixões despertadas!
Desenhei o fatal vestido vermelho, que usei para conquistar minha eterna paixão.
E assim eu sigo; a cada arremate, a certeza do que representa o despertar numa linda manhã de sol.
Afinal, já dizia meu avô:”Deus ajuda a quem cedo madruga!”
Eu poderia tecer uma manhã, que nunca seria tarde. Uma tarde que nunca seria noite. Uma noite que nunca fim daria.
Meus pés estariam descalços, minhas mãos calejadas, a fé desarranjada...
Mas nada me fez desistir!
Acreditei que o sofrimento não me destruiria; pelo contrário, me faria mais forte e persistente.
Coloquei meu sonho na bagagem, arrumei caminho onde não tinha passagem, abri portas que estavam fechadas.
Teci a minha própria história.
Provei que era capaz.
Vi cada manhã como um presente, se era sol; tecia um dia de alegria; se chovia, tecia um dia de aconchego.
Da minha dor, não restou amarguras.
Primeiro comecei tecendo fios mais serenos, sem medo de errar o entrelaçado, tudo não passava de uma brincadeira e, dessa brincadeira, a cada ponto fechado, a vida tomava formas e cores.
Hoje restou um tecido encarnado, encorpado, fazia parte do fechamento de mais uma etapa, cada retalho tinha seu significado.
Esse era o ponto de partida da minha tessitura – Tessitura do texto – Como pôde ter me dito tantas coisas... Fiz a leitura das rosas, sim, lembram o jardim de rosas vermelhas da minha avó. Quantos arranhões! Quantas rosas roubadas para a professora...
Muitas paixões despertadas!
Desenhei o fatal vestido vermelho, que usei para conquistar minha eterna paixão.
E assim eu sigo; a cada arremate, a certeza do que representa o despertar numa linda manhã de sol.
Patrícia da Silva
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